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Se no início da época lhe dissessem que o Viseu 2001 ia terminar a Série Sul em primeiro lugar, garantir a luta pela subida de divisão e desde já a manutenção na Segunda Divisão, acreditava?
Não, tinha chamado essas pessoas de loucos. A nossa realidade em Viseu é muito específica. O interior tem muito menos recursos humanos e o futsal passa exatamente por isso: gente disponível. E quando falamos de desporto feminino, pior.
A época e os resultados foram alimentando outros sonhos. Foi isso?
Temos de dar relevância a um trabalho que é feito há alguns anos dentro do clube. Eu já estou há seis anos no Viseu 2001, com mais ou menos peripécias. Houve coisas que, claramente, não correram bem, mas fomos melhorando em termos de estrutura, principalmente nestes últimos dois anos. O nosso crescimento também se deve a mais estabilidade.
Em que momento da época percebeu que poderia ser possível atingir a fase de campeão?
Nós começámos muito bem. Um treinador que conhece bem a equipa sabe que, com a conjugação de alguns resultados que foram acontecendo, apesar das lesões, fazendo uma primeira volta onde apenas empatámos com a Académica, dentro dos dias normais, tínhamos tudo para poder lutar pela ida à fase de campeão.
O plantel foi construído para agarrar a manutenção ou já a pensar noutras ambições?
Foi claramente para garantir a manutenção. Não posso mentir que queria que ficássemos nos quatro primeiros. O plantel não foi construído a pensar na Zona Sul. Nós na Zona Norte conhecíamos os clubes, estavam mais do que observados. Ir para a Zona Sul, obrigou-me a mais trabalho. Na construção do plantel tivemos em conta as nossas lacunas, dentro das dificuldades de angariar jogadoras para jogarem em Viseu.
Como é que foi feito esse trabalho?
Algumas visitas a algumas cidades, alguns cafés tomados, muita conversa ao telefone. Também fomos ficando conhecidos e com algumas jogadoras começámos a falar a meio da época passada. Havia alguma desconfiança nessa altura porque poderíamos descer aos distritais. Salários nós não pagamos. Somos dos poucos clubes a competir na Segunda Divisão a não pagar às atletas, nem prémios de jogo.
Fica mais difícil convencer…
Muito mais. Há clubes nos distritais que dão pelo menos os prémios de jogo.
Então como se fideliza alguém?
É a ambição. Não conseguimos fazer mais nada para além disso. Claro que isto é um crescimento. Nós no feminino estamos a crescer e a assentar base. Assim que tivermos os alicerces, o caminho é o dos outros clubes. Para sermos competitivos no meio de outros clubes com outras capacidades, a questão financeira também tem de evoluir ao mesmo tempo que a equipa evolui.
Termina a Zona Sul em primeiro lugar, 30 pontos, mais dois pontos do que o segundo classificado, o Juventude Ouriense. O Viseu 2001 ganhou 9 jogos, empatou três e perdeu dois jogos. É a segunda melhor defesa da série. Foi determinante para chegar à fase seguinte?
Sim, quem me conhece, sabe que uma das coisas que me identifica é as minhas equipas trabalharem para defender bem. E isto não é montar autocarros. Pelo contrário. Mas as minhas dinâmicas defensivas são sempre muito exigentes. Eu acho que sou mais exigente na dinâmica defensiva, do que na ofensiva. Eu sei que dá estabilidade para irmos cinco vezes à baliza e não marcarmos.
Sente que um dos motivos deste sucesso foi a aposta na continuidade que aconteceu em agosto de 2023? Recordo-me daquele verão em que o Roger anunciou a saída porque se sentia desmotivado e lamentava a falta de apoio para o futsal feminino. O clube aí segurou o Roger e chegaram a um acordo. A história começou a escrever-se aí?
É uma pergunta difícil. Eu saí do Viseu por falta de estrutura.
Mas mês e meio depois, voltou. O primeiro tijolo desta manutenção foi aí fixado?
O primeiro tijolo foi algo básico que, uma equipa que quer chegar a um patamar, mais alto tem de ter: um coordenador. Nós no futsal distrital e talvez nalgumas da Segunda nacional, é muito comum ter um treinador faz tudo. Quando queremos pensar um pouco mais além, tem de haver pessoas a fazer outro tipo de coisas. Um treinador tem de estar concentrado a conhecer clubes, investigar, ler, observar jogos. Estive na porta de saída, e saí. Voltei porque a estabilidade começou a aparecer.
Falando do que está aí à porta, já conhece os sete adversários da próxima fase. Desportivo Árvore, Futsal Campo, Lusitânia Lourosa, Casa do Povo de Freixo, Académica de Coimbra, Sporting B e Juventude Ouriense. Em termos de qualidade individual e de jogo, qual ou quais são os mais fortes? O Viseu está nesse lote?
Nós não. Temos de saber ler isso, muito tranquilamente. A equipa mais forte é o Árvore e depois o Lourosa será um segundo candidato e posso juntar o Freixo.
E o outsider?
Pode ser um Juventude Ouriense e coloco o Viseu 2001.
Os mais fortes, para si, competem a norte. Os que correm por fora, jogaram Zona Sul. Chegar aqui com o estatuto de campeão da Série Sul pesa ao Viseu 2001?
Terminar em primeiro é sempre melhor do que acabar em quarto. O aspeto moral é muito importante. Também vejo isso como uma responsabilidade. A minha equipa não vai entrar nervosa por ter ficado em primeiro.
E agora? Chegada a luta pela subida, que objetivos tem?
Vamos entrar para ganhar cada jogo. Estou consciente das nossas capacidades e debilidades. Vamos para cada jogo a procurar ganhar. No final da primeira fase já vamos ter uma ideia do que seremos capazes de fazer. Esta é uma oportunidade única para subir à Primeira Liga, que para o ano vai ter dez equipas, em vez das doze deste ano. Este ano a Primeira Liga vai ter quatro despromovidos e apenas sobem dois. Quem decide isto não olha para o futsal feminino como olha para o masculino. E sei que a razão alegada é a competitividade da Primeira Divisão feminina. Mas não pode ser assim. A oportunidade tem de ser dada a todos. Como é que evoluímos se não tivermos hipótese de lá andar? Se não nos tivessem dado a oportunidade de competir, o Viseu 2001 nunca estaria na Segunda Divisão, muito menos na fase de campeão.
Assistimos agora à vitória do Futsal Clube de Lamego no campeonato distrital de futsal feminino. Terá agora de lutar na Taça Nacional para chegar aos campeonatos nacionais. Se, entre treinadores e clubes, se ouve várias vezes que poucos concordam, porque nada muda com a não subida direta dos campões distritais?
É uma pergunta para fazer a quem está em cima. Eu sou claramente contra os modelos competitivos nacionais no futsal feminino. Não defendo a criação de uma Terceira Divisão. Acho que era preciso alongar a Segunda Divisão, mantendo a Primeira com os 12 clubes como tinha. Bastava criar mais uma série, subirem mais clubes do distrital.
Imaginando que o Viseu 2001 não consegue subir à Primeira, o distrito de Viseu contar com Viseu 2001 e Futsal Clube de Lamego numa Segunda Divisão é uma miragem?
Acho que os clubes do nosso distrito e de outros parecidos com o nosso, sabem que é muito complicado. Em 24 equipas a competir na Taça Nacional sobem duas à Segunda Divisão. Não é justo. Como é que as equipas do distrital evoluem se só competem na Taça Nacional uma vez por ano? Como conseguem angariar atletas para serem competitivos para serem as duas melhores em 24 clubes? Não é fácil. Nos masculinos sobem 12. Deviam ser mais. Mas no feminino são só duas. É absurdo.
Já recebeu os parabéns de algum treinador adversário por ter acabado em primeiro a Sul?
Sim, o futsal traz muitos amigos. Nós acabamos por ser um grupo de pessoas com a mesma paixão. E vieram alguns parabéns pelo trabalho. Disseram que não esperavam que o Viseu 2001 fizesse o que fez. O nosso grupo de trabalho faz mesmo muito. Surpreendem-me às vezes pela entrega. Abdicam de trabalho, trocam folgas, jogam com febre… Muitas vezes perguntam-me porque é que eu treino futsal feminino e eu acho que há coisas que acontecem no feminino, que acho que não acontecem no masculino. Tenho uma jogadora que é mãe solteira e sei a ginástica que faz para poder estar no treino.
Enquanto treinador tem aprendido com a experiência de treinar uma equipa feminina?
Muito. Eu treino atletas que não tiveram as mesmas oportunidades na formação que muitos homens tiveram. No masculino é natural um pai levar um filho desde cedo a jogar futebol ou futsal. Nas mulheres, não.
As mulheres são, então, mais gratas pelas oportunidades que lhes são dadas?
Claramente. É a maior lição que me dão. Como treinador, passei anos nas equipas seniores, masculinas e femininas. E consigo perceber perfeitamente as diferenças do que é treinar mulheres e homens. Acho que é mais difícil treinar mulheres: a nossa preparação psicológica, o que temos de preparar para o treino, os conteúdos. Mas eu tenho um lema com as minhas atletas: eu treino atletas. Eu vou para o treino e não sei o género que está dentro do campo. A exigência que coloco a um homem num passe, é a mesma numa mulher. E sinto que elas crescem com isso por não sentirem diferenças.
Vai continuar no Viseu 2001 na próxima época?
Eu sei a ideia que tenho e que transmiti há duas semanas ao meu coordenador e à direção do clube. A minha permanência não depende do que vai acontecer na fase de subida.
A sua decisão ou a do clube?
Ambos, felizmente. Sinto-me em casa. Quando saí, faltava estrutura, mas essa organização está a aparecer. Seria uma incongruência eu dizer que me ia embora.
Está, então, mais perto de ficar?
Eu costumo dizer que só saio deste clube se houver uma grande proposta ou se algo estiver muito mal. Como nenhuma das duas está em cima da mesa, sinto-me muito bem e é por aqui que, em princípio, ficarei. Não tenho vontade nenhuma de sair.