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A época do Mortágua passou por vários ciclos, mas à medida que fomos conversando ao longo da temporada nunca o senti sem esperança. Alguma vez na época, pensou, para si, que a manutenção não seria possível?
Como diz, as épocas são feitas de altos e baixos. Sinceramente nunca senti que [a manutenção] fosse um objetivo fora do nosso alcance. Desde o início da temporada até ao final da primeira volta passámos por um momento nada positivo. No meio disto eliminámos uma equipa da Liga 3 da Taça de Portugal. Fizemos uma recuperação muito boa e conseguimos garantir a manutenção. Foi um feito para o Mortágua, um clube que tem de alimentar-se disto e tentar estar o máximo de anos neste nível competitivo.
O final acabou por ser quase perfeito com cinco vitórias e um empate. A época do Mortágua assemelha-se à nossa vida em que quando as coisas estão a correr bem, acabam? Se o campeonato tivesse mais jornadas o sonho poderia ter sido outro?
Talvez não porque não fizemos os pontos suficientes para que o sonho fosse outro. O final foi muito bom com pontos muito preciosos. Não há muitas semanas, havia três equipas destacadas para os primeiros lugares e havia 10 equipas muito próximas pontualmente para quatro lugares de descida. E foi bom conseguirmos estes pontos, principalmente porque jogámos frente a adversários diretos.
Esta série foi mais competitiva do que a do ano passado?
Não consigo dizer isso…
Mais equilibrada, com equipas mais niveladas?
Provavelmente, sim. Apesar de no ano passado descerem seis, e este ano, cinco, o número total de equipas era o mesmo. No ano passado houve três ou quatro equipas que ficaram para trás e este ano, não.
Tem repetido várias vezes a ideia de que, para já, o Mortágua não poderá ter a ambição de subir à Liga 3. Porquê?
Pelas condições estruturais do clube, pela geografia, pelo orçamento… O Mortágua para já tem de ter os pés assentes na terra. O alvo do Mortágua tem de ser manter-se no Campeonato de Portugal ou, se não conseguir, descendo, lutar para ser primeiro na Divisão de Honra. Neste momento as condições que a vila e o clube têm, as estruturas físicas, não possibilitam outros voos.
Antes de chegar a Mortágua, o Rui representou clubes do litoral. Nessa altura apercebeu-se de que o futebol está virado ao mar?
Sim. E só está virado para o centro, e Viseu é exemplo disso, se houver investimento externo. E o que aconteceu com o Académico é a nota disso mesmo. Eventualmente pode acontecer um outro caso no país que possibilite a equipas do interior estarem presentes noutros patamares, mas toda a gente percebe que o dinheiro circula mais perto da água do que no interior. E está a caminhar para cada vez mais ser assim.
É só através de investimento externo que se muda esta situação?
Ou isso ou alguém que goste mesmo do clube.
Também pode estar relacionado com vias de comunicação?
Não acho que seja por aí. Covilhã tem estradas boas, Chaves também tem estradas boas, Algarve, também. De Viseu para Coimbra, já não. Mas tem muito a ver com a formação acabar muito cedo nos clubes de Viseu, Guarda, Castelo Branco… Os jovens deslocam-se para as faculdades que são longe de casa, não continuam a prática desportiva. E isso tira alguma capacidade aos clubes de ter jogadores formados para utilizar nas equipas seniores.
Como é que está a formação no Mortágua?
Em Mortágua há dois clubes: Mortágua e Vale de Açores e a formação é dividida entre eles. Não há crianças suficientes para preencher todos os escalões de formação. E isso é um entrave. Este ano o escalão mais alto de formação de Mortágua era sub-16. Logo por aí impossibilita alguma base de ajuda para a equipa sénior.
Geograficamente há entraves, demograficamente, também. E nos quadros competitivos? O que se poderia melhorar para dar esperança às equipas do interior?
O grande problema do quadro competitivo é descerem tantas equipas. Em 14, descem 5. Um terço. Eu não conheço os campeonatos todos do mundo, mas duvido que existam campeonatos em que metade das equipas descem.
E o problema é descerem essas equipas ou por exemplo casos como o de Viseu, em que sobe apenas um clube?
Tudo está ligado. O regulamento diz que só sobe um clube por distrito. Depois acabam por subir os segundos classificados dos distritos com maior ranking, se alguém desistir. Eu achava que deveria aumentar ligeiramente o número de equipas no Campeonato de Portugal para permitir um maior conforto e estabilidade. Se não, vai haver um sobe e desce.
No momento de subir, as equipas deveriam ter de provar que estão capazes financeiramente de competir no campeonato?
Mais do que o aspeto financeiro, parece-me que o Campeonato de Portugal é muito heterogéneo em termos de condições de trabalho. Em termos comparativos. Se olharmos para a Divisão de Honra de Viseu, os clubes têm mais ou menos as mesmas estruturas de trabalho. Se olharmos para a nossa série no Campeonato de Portugal, temos várias equipas que treinam de manhã, que só fazem disto vida e são totalmente profissionais. E nós e outras equipas treinamos pós-laboral ou pós-aulas.
O futebol praticado em Viseu tem hoje maior projeção do que tinha há uma década?
Sim, porque a informação chega muito rápido a todo o lado. Eu quando voltei, dizia que o jogador mediano em Viseu, conseguia ganhar mais do que aquilo que devia. Pagava-se mais do que, na minha ótica, se deveria pagar. Mas acho que existem bons jogadores, equipas boas, já com estruturas com pensamentos positivos. O campeonato distrital parece-me competitivo também porque não há muitas equipas nos campeonatos acima. Excluindo Académico e Tondela, só havia mais duas em campeonatos superiores, portanto, todos os bons jogadores estão neste campeonato e aumenta o nível competitivo.
O salto de uma equipa de um campeonato distrital para o Campeonato de Portugal ainda é significativo ou já foi mais?
Quem está dentro do fenómeno percebe que a adaptação é relativamente fácil, agora o nível competitivo é diferente. As equipas tentam ser regulares ao longo da época. São sempre jogos difíceis e equilibrados. O Mortágua só por uma vez ganhou por mais do que um golo. E a diferença entre o distrital para o Campeonato de Portugal é a diferença das condições entre os clubes. Eu não conheço aprofundadamente a série B, mas acredito que as condições do Lamelas não eram iguais às do Beira-Mar.
O Rui chega a Mortágua num momento delicado. A equipa desce do Campeonato de Portugal para a Divisão de Honra. No ano a seguir, sobe ao Campeonato de Portugal e agora alcança duas manutenções seguidas. Há alguma coisa que fica por conquistar?
Cheguei a sete jornadas do fim com a equipa nos últimos lugares e não conseguimos a manutenção. No ano seguinte, conquistámos o campeonato e a Taça [Sócios de Mérito]. Foi uma época brilhante a todos os níveis. Na época passada, começámos muito bem, mas por volta de dezembro, janeiro tivemos duas baixas muito importantes, o que nos fez perder a Supertaça contra o Lamelas. É dos poucos objetivos que ficou por concretizar. Garantimos a manutenção, mas queríamos fazer algo mais na Taça de Portugal. Fomos eliminados logo na primeira eliminatória, mas saiu-nos uma equipa de Liga 3, o São João de Ver. Este ano perdemos todos os avançados que vinham da época anterior. Algumas das contratações que fizemos não funcionaram tão bem, mas em termos coletivos não conseguimos tantos poucos logo a abrir a época. Ficámos isentos na primeira eliminatória da Taça, na segunda eliminatória saiu-nos uma equipa da Liga 3, na terceira foi Segunda Liga, ainda por cima fora. Em termos práticos, um campeonato [Divisão de Honra], uma Taça [Sócios de Mérito], duas manutenções, um percurso relativamente razoável este ano na Taça de Portugal, foi muito bom para todos e para o clube.
Vai ficar no Mortágua na próxima época?
Não sei. São situações que ainda não estão conversadas. Ainda é precoce, apesar de na minha cabeça me parecer uma situação de complexa concretização. Vamos ver. Não tem a ver com fatores desportivos, mas sim pessoais. Vamos ver, não sei.
Acontecendo o que acontecer é um clube que ficará, para sempre, ligado a si…
Desde muito pequeno. O meu pai foi diretor do Mortágua. Eu quando era pequeno andava por lá, pelos balneários, via os jogadores. É um clube que sempre me disse muito. É o clube que me diz algo mais, desde mais cedo. Estará sempre na bancada a minha cadeira azul e amarela. Se eu for para a bancada, posso não ir…
Mas hoje, respondendo hoje, está mais próximo de sair do que de ficar?
Sim. Acho que sim. É muito emocional isto do Mortágua, mais por questões pessoais e familiares. Apesar de ainda não termos conversados. Não sei se o Mortágua quererá [que continue], provavelmente sim. Hoje é uma coisa, amanhã é outra. Mas hoje, era uma situação complexa de resolver.
O que é que espera que se escreva, diga, recorde, da sua passagem por Mortágua?
Gostava que recordassem o Rui como um treinador que foi bom no Mortágua.
Basta isso?
Julgo que sim. Fui um treinador bom, que cumpriu os objetivos do clube e que, acima de tudo, deixei uma boa imagem no campo, principalmente pelo que as equipas jogavam. E pelos exemplos que consegui proporcionar aos mais jovens, pelo legado que deixei e os objetivos que conseguimos concretizar.