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Sem pataniscas e sem casa típica. Após quatro décadas, Viseu perde ”O Hilário”

 Sem pataniscas e sem casa típica. Após quatro décadas, Viseu perde ''O Hilário''
29.06.24
fotografia: Jornal do Centro
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 Sem pataniscas e sem casa típica. Após quatro décadas, Viseu perde ''O Hilário''
18.10.24
Fotografia: Jornal do Centro
 Sem pataniscas e sem casa típica. Após quatro décadas, Viseu perde ''O Hilário''

Na cidade de Viseu, qualquer um sabe que o desejo de pataniscas de bacalhau pode ser saciado na porta número 35 da rua Augusto Hilário. A partir deste sábado, dia 29 de junho, quem apreciar as pataniscas da dona Fernanda José terá de procurar outro local para comer o prato. Ao fim de quase 40 anos de existência, o restaurante e casa típica “O Hilário” vai fechar definitivamente as suas portas.

Agora com quase 68 anos, Fernanda trabalhou neste restaurante toda a sua vida. Desde os 28 anos que é nesta rua que faz as suas famosas pataniscas de bacalhau. Inaugurado a 17 de março de 1986, o restaurante foi governado durante décadas por Fernanda e pelo marido, Carlos José – o companheiro de uma vida morreu em março de 2022, depois de 11 anos a lutar contra a alzheimer.

O nome do restaurante foi escolhido por Fernanda, fã de fado no geral e de “fado Hilário” em particular. Na rua Augusto Hilário, na mesma casa onde nasceu e morreu o fadista, quis o destino que o número 35 fosse ocupado por um casal fã do fado Hilário. Do exterior do restaurante, era já percetível qual o nome do seu patrono. Até recentemente, uma guitarra e um candeeiro, ambos com o seu nome, indicavam aos turistas mais distraídos a presença de uma casa típica viseense. “Era muito engraçado, porque as pessoas orientavam-se pela guitarra. Era comum as pessoas referirem-se ao Hilário como ‘o restaurante que tem uma guitarra à porta’”, explicou ao Jornal do Centro a proprietária do restaurante, Fernanda José.

Tanto a guitarra como o candeeiro foram feitos por um senhor que era agente da PSP. Ao todo, foram feitos e oferecidos ao restaurante Hilário cerca de uma dezena de candeeiros. O nome de quem os fez, contudo, não é fácil de relembrar para Fernanda. “Já foi há muitos anos que o senhor me fez estes candeeiros. Até tenho um garfo e uma espátula com a data em que ele me fez aquilo. Mas já foi há muitos anos, talvez por volta de 1992 ou 1993”, contou Fernanda.

Ao entrar no restaurante, a primeira coisa que salta à vista é o quão estreita é a primeira divisão. Ao largo, este espaço consegue apenas receber duas mesas, cada uma encostada em paredes opostas. No meio, uma pequena zona de passagem permite a Fernanda e ao filho distribuírem os pratos pelos seus clientes. Ao fundo, subindo um lanço de escadas, uma segunda divisão revela mais um conjunto de quatro mesas, numa zona ao lado da cozinha. As mesas são de um aspeto rústico. As cadeiras rareiam, sendo a maioria dos lugares dispostos em bancos para mais do que uma pessoa. Um pequeno tejadilho na diagonal, saído de uma das paredes, dentro da primeira divisão, cai até meio da sala. No cimo das paredes, vários candeeiros semelhantes ao do exterior do restaurante – os tais feitos pelo antigo agente da PSP. Mais a baixo, a altura dos olhos dos turistas, estão vários quadros. A maioria tem motivos típicos e relacionados com o fado. Outros representam músicos como o Hilário e a Severa, antiga fadista lisboeta. “Há um outro quadro do Hilário, feito por um outro senhor em 1987. Esse quadro corre o mundo, porque toda a gente tira fotografias ao quadro”, explicou a proprietária do restaurante. Não é apenas o quadro que viaja pelo mundo. O próprio restaurante é falado nos quatro cantos do globo, com turistas a visitarem anualmente o Hilário em Viseu.

“Temos uns clientes franceses que na semana passada vieram e há 20 anos que eles cá vinham, sempre com um cartão onde estava escrito o que tinham comido no ano anterior” disse Fernanda, junto do balcão, com várias lembranças por trás de si. “Vieram e dissera que era o último ano que vinham. Dissemos que também íamos fechar, depois ora choravam eles ora chorávamos nós”, confidenciou.

Na divisão do fundo, com um pé-direito que não ultrapassa os dois metros, estão várias figuras representadas em desenhos. Estes foram feitos com uma simples esferográfica. O material onde foram desenhados é nada mais nada menos do que o papel colocado no tampo das mesas antes de ser servida cada refeição. É Luís Calheiros o autor destes desenhos, cujo primeiro data de 2003.

Era comum o pintor, desenhador e artista plástico deslocar-se ao restaurante para comer. Por entre garfadas de comida e goles de vinho, o pintor produziu diversas obras, todas assinadas e depois emolduradas por Fernanda. Licenciado em Belas-Artes pela Universidade do Porto e em História pela Universidade de Coimbra, Luís Calheiros é professor na Escola Superior de Educação de Viseu. O seu atelier localiza-se no Paço de Fráguas, em Tondela.

Depois de anos a lutar por restauros no prédio, humidade e infiltrações foram a gota de água

O fecho do restaurante surge numa altura em que Fernanda está, como a própria assumiu, “cansada de lutar por melhorias naquele prédio”. Os problemas de infiltração de água e de humidade são ainda do tempo em que o espaço era liderado por Carlos José. Algumas tentativas de pequenos restauros aqui e ali, suportados por Fernanda, não foram suficientes, mas a recusa da senhoria em avançar com obras de restauro de fundo motivaram o fim deste restaurante típico. “Quando chove não ponho clientes aqui em cima”, explicava Fernanda, junta da divisão do fundo. “Tento fazer o máximo lá em baixo porque tenho medo que me caia aqui água, porque depois o cliente pede-me satisfações, mas é a mim, não vai pedir satisfações ao senhorio”, disse.

“Houve um dia que chovia tanto aqui que eu liguei e disse ‘ó Sr. Casimiro, então, mas não há meio de compor?’”, explicou Fernanda sobre o marido da proprietária do prédio. “E ele respondeu ‘então, mas aí está a chover? aqui não chove’. Quer dizer, porque ele estava em Aveiro não chovia, e a água a cair-me aqui”, ironizou a cozinheira.

As respostas aos pedidos de Fernanda e de Carlos, contudo, nunca chegaram. “No primeiro andar até posso ir e às vezes vou pondo lá uns panos ou umas coisas que eu veja para vedar um bocado, para não vir tanto cá abaixo. Mas a água vem cá parar abaixo, e eu ando nesta luta há anos, já com os pais da senhoria”, esclareceu Fernanda.

Na cozinha, várias panelas e vários potes são colocados nos locais onde é comum pingar, para que esta divisão não esteja inundada em cada dia que Fernanda abre o restaurante. “Os herdeiros estão todos em tribunal. Ninguém quer chegar-se à frente. Eu nunca faltei a pagar rendas. O sr. Casimiro diz que tem pena e que até gostava de resolver, mas que ele sozinho não resolve”, explicou. No fim, os vencedores foram os proprietários do prédio, que acabaram por “derrotar” Fernanda. Do restaurante Hilário ficam as memórias – de quadros de um valor imensurável até aos desenhos de Luís Calheiro.

Os desenhos vão ser doados à Escola Superior de Educação de Viseu. Outros vão ser entregues à Incubadora do Centro Histórico. “Não quero que estas coisas fiquem em caixas, quero que elas tenham vida.”

 Sem pataniscas e sem casa típica. Após quatro décadas, Viseu perde ''O Hilário''

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