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1. Escrevo esta crónica na noite de quinta-feira.
Enquanto, nas televisões, se vira e revira a “implosão catastrófica” do Titan, as redes sociais perdem tempo a criticar o tempo que as televisões perdem com o assunto. Está tudo a moer e remoer o caso daqueles milionários com défice de adrenalina que queriam muito ver o Titanic e encontraram a morte nas profundezas. Está tudo monotemático. Isso não deve surpreender ninguém:
— o Titanic foi sempre um filão de narrativas (houve três filmes logo no ano do naufrágio, em 1912, e as câmaras de filmar nunca mais pararam, nem depois do mega-êxito protagonizado por Kate Winslet e Leonardo DiCaprio);
— o Titanic foi sempre uma fábrica de metáforas (a mais citada, a propósito e a despropósito, é, claro, a da orquestra que ficou a tocar até ao fim);
— o Titanic foi sempre um sucesso no mercado (o violino do diretor da orquestra foi vendido, em 2013, por 1,45 milhões de dólares; cada bilhete no Titan para visitar aquele cemitério no fundo do Atlântico custava 250 mil dólares).
Cemitério, sim. O Titanic não é mais do que um cemitério a 3810 metros de profundidade. Que, desgraçadamente, acaba de ceifar mais cinco vidas.
2. Pontevedra foi pioneira na pedonalização do seu centro histórico e correspondente interdição do trânsito automóvel. É um caso de estudo. Aquela bela cidade galega tem, como diz o El Pais, “un espacio urbano que es ejemplo mundial de sensatez.”
Tudo começou em 15 de Agosto de 1999, no início com muita oposição, mas agora os pontevedrenses pedem é mais ruas sem carros.
Já em Viseu, vamos de mal a pior: carros, carrinhos e carretas; papa-reformas; furgonetas; motas e motoretas aos rateres; vaivém de parolos a querer estacionar à porta do bar; tudo a encher de barulho e fumo a Praça D. Duarte, o Largo da Misericórdia, o Largo Pintor Gata e as ruas adjacentes.
Dr. Ruas, ponha os olhos em Pontevedra.
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