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É paredes meias com a cidade de Viseu, que um emblema se ergue desde 1914. O mais antigo clube do distrito de Viseu, recordado pelo ouro olímpico Carlos Lopes e pelos feitos no futebol distrital e nacional, anunciou há ano e meio a reativação da modalidade de andebol. A secção que fechou portas há 38 anos reabriu a 19 de julho de 2023 e hoje consegue reunir, entre treinadores, fisioterapeuta, dirigentes, jogadoras e jogadores, mais de 100 apaixonados pela modalidade. Uma centena nas fileiras trambelas que este domingo, 16 de fevereiro, vive um dos momentos mais altos com a receção ao Sport Lisboa e Benfica em jogo a contar para a Taça de Portugal de andebol feminino.
Assumindo o favoritismo das encarnadas, o treinador das trambelas, João Dias, garante que no querer e na vontade ninguém pode estar acima do Lusitano. “O jogo começa 0-0 e ainda ninguém ganhou. É isso que vou passar para as atletas. Possibilidades há sempre, mas o Benfica tem mais capacidades. Agora, há algo que temos de igualar e até superar: o querer. A pressão está toda do lado do Benfica. Vamos aprender com este jogo, desfrutar o momento e fazer o melhor que pudermos”, começa por dizer o treinador. Mas já lá vamos ao jogo.
O primeiro convívio de João Dias com uma bola de andebol aconteceu pelos doze anos de idade. A representar o Gigantes de Mangualde, olhando para trás, o agora treinador assume que não foi um brilhante jogador. “Não era muito bom, nem bom, se calhar”, confessa entre risos. Mas o ano e meio em que lidou de perto com a modalidade tornar-se-iam decisivos para abraçar o desafio que tem hoje. A passagem pelo Académico de Viseu, já quando estava no ensino universitário confirmaram-lhe a vontade que assumiu um dia: querer ser treinador de andebol.
E assim foi. No Lusitano começou por assumir a equipa sub-16 feminina e entrou como coordenador da modalidade. E no clube trambelo viu logo algo que lhe agradou. Ali olha-se, mais do que tudo, para o jogador. “Encontrei um projeto direcionado para as pessoas e não para o lucro. Isso, para mim, é essencial porque estamos num clube formador. Por estar focado nos atletas, o projeto do Lusitano evoluiu rapidamente”, explica. E um ano e meio depois conseguiu já agregar 85 jogadores, entre masculinos e femininos, nos mais variados escalões.
Clube ambiciona criar “atleta by Lusitano”
No início da época foi-lhe lançado outro desafio, talvez o maior da carreira até agora: treinar a equipa sénior feminina. “Acabou por não ser uma transição difícil porque fazia parte da equipa técnica anterior. Comungamos das mesmas ideias e eu já conhecia toda a gente e os métodos de trabalho. O nosso modelo de jogo não difere de equipa para equipa”, realça.
“Uma atleta do Lusitano que esteja nos sub14 e outra que treine nos sub18 tem a mesma visão do andebol. Criamos quase um atleta by Lusitano. É fundamental. Temos reuniões mensais de treinadores e dirigentes. Neste caso, os dirigentes são pessoas não remuneradas que estão no clube ao serviço do desporto. Todos rumam no mesmo sentido”, frisa. A somar aos jogadores e jogadoras, o Lusitano tem dedicados ao andebol sete treinadores, um fisioterapeuta e à volta de dez dirigentes. “Estarão vinte pessoas ligadas ao andebol do Lusitano”, complementa o técnico.
A equipa sénior feminina está neste momento a competir na Segunda Divisão de andebol. E em Vildemoinhos, garante João Dias, está um clube que olha para o futuro com a ambição dos maiores clubes portugueses. “Acima de tudo o Lusitano tem tentado aproximar-se, o mais possível, do nível profissional. A nossa equipa técnica trabalha de uma forma que eu diria que há poucos clubes na Primeira Divisão a trabalhar assim. Temos análise de vídeo, treinos suplementares, treinamos quatro vezes por semana, há atletas a fazer treinos de ginásio três vezes por semana”, detalha.
Os treinos decorrem sempre no Pavilhão do Fontelo. E são por ordem de idade. Por isso as seniores treinam quatro vezes por semana e a sessão de treino inicia ou às nove da noite ou às nove e meia da noite. E no plantel há quem estude, há quem já trabalhe, há quem viva perto e há quem faça largos, largos minutos de carro só para treinar.
Mas desengane-se quem ache que a agenda aperta só para quem joga. Além de treinador de andebol, João Dias é professor de Música e Educação Física e é ensaiador de tunas. “O tempo é todo contado. Vivo em dois mundos: a arte e o desporto. No início sentia dificuldade em que um mundo não colidisse com o outro. Agora, não faço tanta coisa na música porque o tempo não dá para tudo e hoje a música é como que um momento que tenho para relaxar. O andebol é foco total”. O técnico do Lusitano faz parte da Infantuna Cidade de Viseu e da Alcatuna.
Lusitano é projeto novo, mas trabalha futuro como poucos, garante capitã
Também Matilde Brazeta não tem uma agenda fácil. A capitã do Lusitano de Vildemoinhos está a estudar Desporto na Guarda e vive em Moçâmedes, São Miguel do Mato, concelho de Vouzela. Há, então, meia hora, pelo menos, para fazer de carro, assim que o treino termina. A paixão por este desporto começou na vida de Matilde aos seis anos, quando representou o São Miguel do Mato. E foi aos 12 que riscou as outras modalidades da agenda e optou pelo andebol. “Apaixonou-me ser um desporto coletivo, jogar em equipa”, refere.
Esteve até aos 13 anos com o símbolo do clube do concelho de Vouzela. Depois surgiu a oportunidade de representar Academia de Andebol de São Pedro do Sul, Académico de Viseu e Andebol Clube de Oliveira de Frades. “O Lusitano é um projeto novo, mas com potencial para, aos poucos, conseguir evoluir e atingir patamares maiores”, assinala a jogadora, que é a melhor marcadora das seniores femininas do Lusitano, no campeonato. Nesta fase, a equipa de Vildemoinhos ocupa o segundo lugar da Zona 2 da Segunda Divisão feminina. Há três grupos na 2ª Divisão nacional de andebol. Passa diretamente o primeiro classificado de cada grupo e o melhor segundo, fazendo quatro clubes apurados para a Divisão de Honra.
Com a aproximação temporal de um jogo frente a um dos clubes maiores do andebol português, pode estar a aumentar a curiosidade sobre o clube trambelo. O Benfica lidera a Primeira Divisão nacional de andebol feminino. E para quem está nesta altura a pesquisar pela primeira vez sobre o Lusitano de Vildemoinhos e a equipa de andebol, Matilde satisfaz-lhes já a curiosidade e responde à pergunta: afinal, quem é o Lusitano? “É uma equipa nova que trabalha como poucas a pensar já no futuro”, resume. A atleta não tem dúvidas em afirmar que em organização, técnica e tática, em Vildemoinhos se trabalha como em poucas equipas em Portugal. “Com o tempo, as pessoas vão aperceber-se da dimensão do projeto. Com os resultados e os títulos vamos ver reconhecido o trabalho”, confia a capitã. A comprovar isso, acredita a jogadora, está a inscrição de jogadores ao longo da época. “Temos uma média de um ou dois atletas inscritos por mês”, sustenta.
Capitã e treinador são benfiquistas, mas prometem não pensar nisso
A atleta de 20 anos foi eleita capitã pelas companheira de equipa. E tudo decorreu com votação. “Não estava à espera de ser capitã. Acho que me escolheram pela experiência que tenho no andebol. Deram-me um voto de confiança, mas eu, sendo sincera, nem gosto que me chamem de capitã. Eu não sou mais do que ninguém. Sou igual a elas e o meu papel é unir e resolver questões que possam surgir”, revela.
Sobre o jogo deste domingo, Matilde lembra-se bem do dia em que foi conhecido o adversário do Lusitano. Assim que o sorteio revelou que no caminho das trambelas estava o Benfica, a capitã revela que o primeiro sentimento no balneário do Lusitano foi o do medo. “A maioria não estava a acreditar e o meu papel foi o de lhes dizer que temos de aproveitar a experiência. Disse-lhes mesmo que devemos encarar isto como uma conquista. Não são todas as equipas que jogam contra o Benfica”, ressalva. “Devemos ver o jogo na perspetiva de que o devemos aproveitar, desfrutar. Quem tem de mostrar alguma coisa é o Benfica”, frisa.
Assumindo ser benfiquista de coração, deixa já uma garantia. “No andebol vou ignorar esse facto”, diz, entre risos. É também com algum mistério, e em jeito contido, que o treinador assume também alguma paixão pelo clube da Luz. Mas só no futebol. E mesmo assim… É que quando lhe perguntamos se é benfiquista, João Dias responde perentoriamente. “Sou do Lusitano. No futebol sou benfiquista, a não ser que joguem contra o Lusitano. Aí passo a ser Lusitano”, assegura.
Jogadoras precisam do apoio do público, apela capitã
O treinador acrescenta que um jogo diante de um clube maior do andebol nacional “chega sempre numa boa altura”. “Damos à cidade a hipótese de ver um jogo que envolve um clube que, no andebol feminino, é o melhor de Portugal”, sustenta. “Será um jogo complicado, mas vamos lutar. Estamos tranquilos. A nossa ideia de jogo tem de estar bem presente e temos de mostrar a filosofia Lusitano: sentir, ambição e compromisso”, detalha.
Voltamos a Matilde para um pedido especial. Para que as percentagens de favoritismo passem a ter também os tons lusitanistas, há que contar com um fator chave. Ou não estivéssemos a falar de um clube de uma terra de Zés Pereiras e de Cavalhadas, há um ‘jogador’ que não pode faltar. O bombo. “As equipas da formação não faltam e os nossos pais e mães, também não. Ainda não decorei os cânticos, mas eles têm músicas para nós. Apareçam”. Apelo de capitã. No balneário vai ouvir-se como sempre um grito de guerra. “Pelo Lusitano. Unidos. Venceremos”. Venha o jogo.