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Para o professor Luís Simões, do Instituto Politécnico de Viseu (departamento de Ambiente), com a realidade das mudanças climáticas há ações que devem começar a ser implementadas nos territórios. O presente já é de fenómenos extremos com secas mais frequentes e chuvas concentradas. O vinho do Dão está a perder algumas das suas características
De que forma as alterações climáticas influenciam a produção de uvas nesta região do Dão? As uvas e outros produções agrícolas…
As alterações das mudanças climáticas impactam todas as culturas agrícolas. E o impacto, quer seja na produção da uva quer em outras culturas, deve-se, fundamentalmente, ao aumento do número anual das ondas de calor. Esta situação impacta no ciclo vegetativo da videira, nomeadamente ao acelerar o amadurecimento das uvas que poderá levar a um desequilíbrio entre o açúcar e a acidez e, por isso, modifica as propriedades do vinho.
Ou seja, muda o perfil do próprio vinho do Dão, caracterizado por um determinado teor alcoólico, por um determinado sabor, frescura, entre outras características. O que fica é um vinho que fica menos fresco e com maior teor alcoólico.
Mas já estamos a assistir a esta mudança com as ondas de calor?
Sim, sim. Neste momento , há anos mais gravosos outros anos mais amenos, mas isto são processos em curso que estão a decorrer neste momento e todos nós sentimos os impactos.
Por exemplo, em termos de regime de precipitação, os solos da região Demarcada do Dão são solos graníticos, são solos não muito profundos, diria mesmo por vezes esqueléticos, e é evidente que não têm uma grande capacidade de retenção da água. Ora, as alterações climáticas estão a provocar uma mudança do regime da precipitação no sentido de haver secas mais frequentes e prolongadas e chuvas mais concentradas e com ocorrência mais frequente de fenómenos extremos de precipitação. Toda esta conjugação destes fatores faz com que a videira sofra e o vinho também seja alterado e haja mudança da qualidade do vinho.
Temos ou devemos reconverter os nossos terrenos para outras culturas e na vinha para outras variedades?
Elenco aqui algumas oportunidades ou ações que os produtores de vinho do Dão podem tomar. Desde logo a seleção de castas mais resistentes à seca e ao calor. Ou seja, que estejam mais adaptadas a secas prolongadas e a ondas de calor mais fortes.
A outra questão tem a ver com as práticas de rega. Adotar uma gestão hídrica através de sistemas de rega eficiente, como micro irrigação, para aumentar a capacidade de retenção de humidade do solo e também reduzir a erosão. Também promover a cobertura do solo com matéria orgânica e com vegetação natural. Acho que são medidas que podem ser adotadas numa vinha.
Além da vinha, esta é também uma região de maçã, de castanha… as ações devem ser no mesmo sentido?
Como disse no início, todas as culturas agrícolas são impactadas pelas alterações climáticas. E impacto vem, fundamentalmente, de alguns parâmetros climáticos que estão a mudar e a mudança faz-se, como disse há um bocado, pela alteração do padrão das temperaturas. Posso dizer-lhe já que as temperaturas médias anuais se mantêm há cerca de um século mais ou menos constantes há 90, 100 anos. Não há mais calor, o que há é menos frio. Os invernos são menos rigorosos. Outro facto: em termos de precipitação também não chove menos, agora em termos de médios anuais, o que há é secas mais prolongadas, mais comuns e frequentes. Precipitações mais concentrados, episódios de precipitação mais concentrados que levam aos tais fenómenos de precipitação extrema.
Hoje em dia somos confrontados com notícias da Agência Copérnico ou do próprio IPMA a dizerem que, janeiro, por exemplo, foi o mês mais quente dos últimos anos ou março o menos chuvoso. São estes fenómenos a que se refere?
É e isso tem a ver com aquilo que eu estava a dizer. Os invernos são muito mais amenos, ao contrário dos verões que poderão ter maior número de vagas de calor. Aliás, estão comprovadamente a ter. Mas, em termos médios, a temperatura máxima no verão não é mais elevada. Agora, o que é claro é que nos invernos as temperaturas, quer mínimas, (7:34) quer máximas, mas em particular as mínimas, subiram. Posso dizer que na região de Viseu subiram cerca de 1,5°C, precisamente 1,35°C. Estamos a falar nos últimos 90 anos, com estudos de 3 séries climáticas longas, de 30 anos cada uma.
Vai chegar a altura em que vamos ter de viver, como o cinema já retrata, numa espécie de estufa?
Espero que Nunca! Mas o desafio futuro é, sem dúvida, o combate às alterações das mudanças climáticas. A humanidade no seu todo vai, aliás já está, a enfrentar grandes desafios. Os padrões de vida, os padrões de consumo têm de se adaptar às novas realidades. E isto parte de nós, mas também parte das políticas que têm de ser feitas.