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Quando assumiu a presidência da Casa do FCPorto de Viseu, em 2019, André Valente, um portuense a viver há vinte e um anos em Viseu, definiu como objetivo não tornar o espaço azul e branco apenas dedicado ao futebol e de portas abertas para os adeptos portistas assistirem aos jogos da equipa. E a vertente social foi sempre bandeira que quis hastear. “Sempre defendi que a Casa do FCPorto de Viseu não podia ser apenas uma casa de um clube de futebol. Tinha de ser mais do que isso. A Casa deve ligar-se à localidade onde está inserida”, acrescenta. A Casa dos azuis e brancos viseense recebeu, em 2024, a distinção de Casa do FC Porto do ano.
Este ano, pela segunda vez, a instituição saiu à rua, para, numa ação solidária próxima do dia de Reis, distribuir refeições a famílias pobres de Viseu. No ano passado, a Casa do FCPorto de Viseu conseguiu ajudar 300 pessoas de 128 famílias, este ano a ajuda chegou a 452 pessoas de 172 famílias. O presidente pôs mãos à obra e também foi ajudar na distribuição.
Entre sorrisos, abraços e palavras de força, André Valente confessa ter saído desolado por ter percebido que o quadro de pobreza e exclusão social se mantém inalterado. “Mais de metade das pessoas a quem entregámos refeições na freguesia de Repeses e de São Salvador, eram as mesmas que ajudámos no ano passado. Reconheci-as. É com tristeza que vejo que as pessoas se mantêm na mesma situação. Passou um ano e mantêm-se numa situação precária. A pobreza continua a existir. Nos dias de hoje isto já não devia acontecer”, sublinha. O dirigente garante que está atento ao que se passa, sobretudo, na freguesia onde a Casa está instalada desde 2017: Repeses e São Salvador.
A solidariedade como bastião portista
A casa dos portistas de Viseu tem, também, colaborado com o Banco Alimentar de Viseu. “Fazemos equipas nas duas campanhas semestrais. Paralelamente, começámos a receber papel na Casa, que entregamos ao Banco Alimentar para ser convertido em alimentos. Revistas, jornais, livros que deixamos na instituição. Fizemos duas entregas em novembro e dezembro, que resultaram em 1300 quilos de papel”, detalha André Valente. A instituição de solidariedade, que em Viseu é liderada por Fátima Ribeiro, foi também ajudada pela Casa do FCPorto viseense na campanha de troca de eletrodomésticos por alimentos. “Qualquer pessoa que tenha um eletrodoméstico de pequenas dimensões que queira entregar, não precisa de ser sócio da casa, pode deixar na nossa Casa que nós, depois, vamos entregar ao Banco Alimentar”, explica o responsável.
André Valente revela que há três vetores que norteiam o que quer fazer: recreativo, solidário e desportivo. No desporto, destaca-se na Casa do FCPorto de Viseu a modalidade de pool português. “Estamos em plena atividade com esta modalidade, desde setembro do ano passado. Durante a semana, temos na casa competição, quer de equipas, quer individual”, frisa André Valente.
A competir com o símbolo da Casa do FCPorto de Viseu há três equipas na modalidade de pool português. “Temos 22 atletas nesta modalidade desde os 30 anos de idade até aos 65 anos. Destes 22 jogadores, cinco são portistas. A maioria é de outros clubes. Isto prova que, não é pelo facto de sermos uma casa de um clube, que as pessoas de outros clubes deixam de representar as nossas cores”, enaltece. André Valente lembra que a equipa de pool português da Casa do FCPorto de Viseu é bicampeã distrital e caminha para o tri.
2025 pode trazer outros caminhos desportivos nos portistas de Viseu. “Temos várias ambições em carteira. Para crescermos um pouco mais temos de ter mais modalidades e termos em nosso redor mais atletas. Com isso vamos trazer mais público e famílias, independentemente das cortes clubísticas de cada um. Este ano ainda queremos criar uma ou duas modalidades. É o objetivo”, revela.
Ligação à sociedade rimou com Cavalhadas de Vildemoinhos
Nesta altura, o número de sócios pagantes da instituição ronda os 250. “Queremos aumentar até porque somos uma associação sem fins lucrativos. Uma das nossas fontes de rendimento chega-nos das quotas dos sócios”, lembra André Valente. “Apesar de termos um grande clube de futebol por trás, queremos ser cada vez mais identificados como a Casa do FCPorto, associação viseense, que está aqui para toda a comunidade”, ressalva.
Na procura de concretizar sonhos, os portistas de Viseu têm conseguido levar ao Estádio do Dragão, adeptos que não conhecem o reduto azul e branco. “Algumas das pessoas que levámos ao Dragão, não conheciam sequer a cidade do Porto. No ano passado fomos com meninos da APPACDM de Viseu ver um jogo do FCPorto, com entrada gratuita no estádio e no museu e também levámos meninas da instituição de Santa Teresinha, em Viseu, para ver um jogo do FCPorto no Dragão”, detalha. O dirigente acrescenta que há vontade de este ano repetir a ida ao Dragão com adeptos azuis e brancos. “Já estabelecemos contacto com a APCV demonstrando que tínhamos todo o interesse em estabelecer uma ação solidária com os utentes. Queremos, no fundo, fazer sempre mais do que no ano passado”, sublinha.
A contribuir para a ligação social que tanto almeja, a Casa do FCPorto de Viseu participou também nas Cavalhadas de Vildemoinhos, em 2024 com um carro alegórico alusivo à instituição. “Tivemos dois adeptos do FCPorto, utentes da APPACDM de Viseu, a Natália e o Orlando, a juntarem-se ao nosso carro. Fizemo-los sócios honorários da nossa Casa. Um pequeno gesto que fez duas pessoas felizes”, enaltece André Valente.
Além disso foi agendado um jogo de futebol com velhas glórias portistas, no Estádio do Repesenses. Nesse encontro de memórias, foi organizada uma recolha de alimentos e foi ainda sorteada uma camisola autografada pelos jogadores azuis e brancos. A receita alcançada foi doada aos Bombeiros Voluntários de Viseu.
A dirigir a Casa do FCPorto de Viseu há seis anos, André Valente diz que no futuro espera poder gerar postos de trabalho. “Todas as pessoas que estão na Casa atualmente é sem vencimento. O nosso objetivo é que a Casa passe a estar aberta mais tempo e não apenas em dias de jogo da equipa de futebol ou das competições de pool português. O futuro levará a que tenhamos cá uma pessoa a tempo inteiro ou parcial e gerar emprego”, confirma.
Futebol de praia tem sido a bandeira da Casa do Benfica de Viseu
Distantes mais de 300 quilómetros no mapa de Portugal, FCPorto e Benfica estão, em Viseu, à distância de quatro quilómetros. As águias estão sediadas em Orgens. Esta é a terceira sede da Casa do Benfica de Viseu, instituição que se instalou na cidade de Viriato desde 2004. Há hoje 650 atletas a vestir as cores da Casa do Benfica de Viseu. “Apostamos muito na vertente desportiva. Temos futsal, futebol, andebol, ginástica e futebol de praia. No futebol, temos um protocolo com o Benfica, num Centro de Formação e Treino, de onde saiu o António Silva. No futsal, temos formação e equipa sénior, no andebol temos a formação toda em masculinos e femininos. Representam-nos cerca de 650 atletas. Somos um dos clubes do concelho de Viseu com mais atletas. É já um barco muito grande, que requer muito trabalho”, reconhece o presidente Fernando Albuquerque. Só ginastas, há mais de 300 atletas a representar a Casa do Benfica de Viseu.
No entanto, é o futebol de praia que tem, nos últimos tempos, suscitado a curiosidade de muitos. Afinal, há um clube do interior português, longe da areia e do mar, a levar avante uma modalidade que convive na esmagadora maioria das vezes com o som do mar. “Há meia dúzia de anos conseguimos criar uma equipa que vai competindo nos campeonatos nacionais com ambição de chegar à divisão de elite. Estamos a lutar. E para isso temos competido em vários torneios nacionais e internacionais”, destaca o dirigente. Os treinos decorrem no campo areal do Fontelo.
Com centenas de atletas em redor do símbolo benfiquista de Viseu, a instituição tem também levado vários profissionais a trabalhar com a Casa do Benfica. “Isto envolve muita gente. Em cada uma das modalidades temos de ter pessoas competentes para estarem à frente. E beneficiamos da ajuda dos pais dos atletas. É bom que eles se sintam úteis e façam parte da vida do clube”, justifica.
Casa do Benfica de Viseu leva várias vezes adeptos a ver o Benfica à Luz
À semelhança do que aconteceu com a Casa do FCPorto de Viseu, a Casa do Benfica de Viseu também recebeu por parte da ‘casa mãe’ o estatuto de melhor casa do ano. As águias de Viseu receberam em 2023 esse título. “O que nos disseram foi ter visto em nós uma vertente desportiva muito forte. Há muito poucas casas como a nossa, com tantas modalidades e atletas. E olharam também às excursões. Somos uma das casas que mais excursões faz ao Estádio da Luz ver o Benfica. Quase todos os jogos que o Benfica fez em casa, teve o apoio da nossa Casa, com a saída de um autocarro desde a sede. Na nossa região, poucas casas fazem excursões à Luz. Nós temos casos de pessoas que vão a todos os jogos. Há quem fique logo marcado de um jogo para o outro”, vinca.
E ao longo dos anos, chegaram a sair de Viseu dois autocarros. E até mais. “Em 2004, num Benfica – Sporting, levámos seis autocarros”, recorda Fernando Albuquerque. Nessa altura, a sede da Casa do Benfica de Viseu estava na Estrada Velha de Abraveses. Mais tarde mudou para Santo Estêvão para agora se fixar em Orgens onde está há cerca de sete anos. Na sede mais recente, podem estar à volta de 120 pessoas. Uma verdadeira casa cheia em dias de jogo.
As portas estão abertas, como reafirma Fernando Albuquerque, várias horas por dia. Por isso, enfatiza, foram criados três postos de trabalho. “Um dos casos foi feito com contrato celebrado com a APPACDM. É muito importante para nós celebrar a integração. Sentimo-nos realizados”, resume. A Casa do Benfica de Viseu tem hoje 800 sócios. “Estamos integrados na região. Defendemos o Benfica, mas estamos todos os dias de portas abertas, a todos. Todos. Não apenas benfiquistas”, sublinha o responsável.
Nesse conceito de integração tem contribuído a vertente social e solidária. No natal, a Casa organizou um lanche solidário. “Foi na véspera de Natal e pudemos dar uma tarde diferente a 15 pessoas. Sentiram-se felizes e nós gostamos muito destas ações solidárias”, explica.
Benfica e Sporting em Viseu separados por… uma mini Segunda Circular
Ao saber que o sonho de alguns utentes da APPACDM de Viseu era visitar as instalações da Casa do Benfica de Viseu, as portas ficaram abertas e a vontade foi concretizada. “Fizemos uma visita à casa e vimos-lhes a alegria estampada nos rostos. Não há dinheiro, não há nada que pague estes gestos. São atitudes que não têm preço, têm apenas valor”, resume Fernando Albuquerque.
Mas a ambição, tal como a águia, também ganha asas. “Estamos também muito perto de levar pela primeira vez a Lisboa um grupo de pessoas que nunca foi ao Estádio da Luz. O vice-presidente do Benfica, Domingos Almeida Lima, esteve em conversações connosco para que, assim que seja possível, levarmos um autocarro com pessoas necessitadas a realizar o sonho de ver um jogo do Benfica no Estádio da Luz”, antecipa.
Numa espécie de Segunda Circular, os lugares-mor da paixão benfiquista e sportinguista em Viseu estão separados por pouco mais de um quilómetro. É em Santo Estêvão que se celebra a esperança verde e branca. Fernando Santos dirige o Núcleo do Sporting de Viseu há sete meses. A instituição nasceu em Viseu em 1989. Foi o primeiro centro de paixão clubística dos três grandes a surgir por terras de Viriato. Pelo meio houve várias interrupções de atividade, o Núcleo esteve fechado e foi reativado em 2014.
Os leões de Viseu querem continuar ativos na vertente social, confirma o dirigente. Por isso, continuará ativa uma recolha solidária por alturas do Natal para tornar mais feliz a quadra. “Queremos continuar a juntar roupa e brinquedos para levar a instituições de solidariedade de Viseu. Já o fazemos há alguns anos”, assinala. O Núcleo ajudou também o povo de Moçambique aquando das cheias, em 2023. Para o futuro, a direção do Núcleo do Sporting de Viseu quer manter ativo o rugido solidário. Preferindo não desvendar os projetos que estão para chegar, Fernando Santos promete reforçar a vertente desportiva.
Academia Sporting Viseu visto como futura equipa do Núcleo leonino
Agora a instituição conta com 330 sócios. E Fernando Santos apela a que, um pouco por todo o distrito de Viseu, haja cada vez mais pessoas a aproximarem-se dos núcleos que mantém as portas abertas. “Assim estaremos mais fortes. Somos um elemento aglutinador”, sublinha. O foco agora está em angariar mais sócios e dar-lhes mais conforto nas instalações do Núcleo.
Nesta fase, em Santo Estêvão, as portas abrem apenas para que os adeptos do Sporting vejam os leões jogar. “Gostávamos de abrir o Núcleo mais vezes”, reconhece. E é de Santo Estêvão que também partem, em algumas ocasiões, autocarros que rumam a Alvalade. Na ida mais recente ao estádio sportinguista, seguiu uma pessoa na comitiva que nunca tinham ido ver o Sporting ao estádio.
A esperança de ver um talento de Viseu brilhar no clube do coração leva Fernando Santos aplaudir o facto de a Academia do Sporting estar instalada na capital de distrito. “É um orgulho e é espetacular para o sentimento sportinguista”, sublinha. “Pediram-nos que acompanhássemos de perto este projeto na altura que deu os primeiros passos. Dentro do nosso universo de sócios espalhámos a notícia e pedimos o contributo de quem se conseguisse associar. Além de diretores técnicos, precisavam de pessoas para acompanhar os vários escalões e haver uma ligação entre jogadores e pais”, explica.
A comandar esse barco está José Barbosa, o coordenador técnico da Academia Sporting Viseu. Os treinos decorrem no campo de futebol do Futebol Clube de Ranhados, numa parceria entre Academia e o clube viseense. Há 175 atletas a vestir a camisola do Sporting na Academia, com idades entre os 5 e os 18 anos. “Temos treinos todos os dias enquanto atletas do Sporting e, ao fim, de semana, representam o Ranhados, nos campeonatos da Associação de Futebol de Viseu”, sublinha.
Mensalmente, reforça José Barbosa, há uma visita feitas por técnicos do Sporting e também reuniões com a Academia. “O objetivo da Academia é dar força ao nome Sporting em Viseu, marcar presença, entusiasmar os adeptos e aproximá-los do clube. E, da nossa parte, queremos estar mais perto dos talentos para os conseguir recrutar”, resume José Barbosa. Daqui, confiam os leões de Viseu, poderá nascer uma futura equipa ligada ao Núcleo.