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Construído extramuros da cidade medieval, o antigo Rossio de Massorim perdia-se de vista entre o desaparecido Convento de Santo António de Massorim (na zona onde agora está a Igreja dos Terceiros) e as agora denominadas Rua Infante D. Henrique e Avenida Alberto Sampaio. Era aqui onde a população que vivia dentro de muros despejava o lixo ou ia buscar água e pasto para os animais. Era um baldio fora da cidade que estava à disposição do povo. Viseu teve outros, como o Rossio da Santa Cristina ou o Rossio da Ribeira. “Eram vários os rossios que a cidade tinha e eram espaços para usufruto das pessoas, eram espaços utilitários”, explica a historiadora Liliana Castilho.
No século XVI, o espaço primordial da cidade era o Adro da Sé e a Praça D. Duarte. Era aqui o centro civil, era nesta espaço que estavam os edifícios como a cadeia ou os paços do concelho e se realizavam as feiras e os mercados. De acordo com a historiadora, outro espaço importante era o então conhecido terreiro das freiras (Convento de Santo António, junto ao Teatro Viriato), local onde até se realizavam touradas para as freiras em clausura assistirem.
“O século XVI foi fértil em construções intramuros, enquanto que o século seguinte foi pobre, de pouco desafogo económico. Poucas alterações aconteceram na planificação da cidade”, conta Liliana Castilho.
Foi a partir do século XVIII que se assistiu à emancipação da cidade para fora das muralhas, muito graças ao ouro chegado do Brasil que ajudou a que Viseu assistisse a uma maior construção. E os rossios, até então, quase locais de despejo, passaram a ser olhados com outros olhos. Por exemplo, no Rossio de Santa Cristina é construída a Congregação do Oratório de San Felipe de Neri, a Igreja da Ordem Terceira do Carmo que 60 anos depois de estar concluída viu a fachada totalmente renovada o que demonstra, segundo a historiadora, uma época de desafogo económico.
É também nos finais do século XVIII que o Rossio de Massorim começa a ter outro papel. A feira passa-se a realizar nesta zona fora de muros e há uma série de disposições camarárias no sentido de dignificar o espaço.
“O século XVIII foi muito rico para a cidade de Viseu. Deram-lhe novos espaços e cresceu cultural e arquitetonicamente”, descreve Liliana Castilho.
O passeio D. Fernando… já no século XIX
A importância do espaço foi crescendo, assim como as necessidades da população. É nesta senda que a planificação da cidade se vai construindo com as “modas” chegadas de outros países. Com o século XIX chegam as “boulevards”, o fontismo e as construções que eram sinais do progresso.
A 29 de outubro de 1845, por exemplo, no Rossio, como agora o conhecemos, foi criado o Passeio D. Fernando, um passeio público, aberto, rodeado por árvores e mais tarde ornamentado com um coreto. Era o passeio dos burgueses que, embora em terra batida, era atravessado por quem queria ser visto. Também a Cava de Viriato era usada como passeio público.
Mas de regresso ao Rossio, o do passeio de D. Fernando, a partir de 1852, este espaço transformou-se no novo centro urbano da cidade. Assumiu maior importância com a construção, em 1887, dos atuais Paços do Concelho. A partir de 1910, o nome passou a ser Praça da República. Mais mais de um século passado, ainda os dois nomes convivem.
“O plano de obras em 1876 revolucionou a cidade. Foi a chamada época do fontismo (ações levadas a cabo pelo Ministério das Obras Públicas, Comércio e Indústria que tinha à frente António Maria Fontes Pereira de Melo)”, explica, também, o historiador Jorge Adolfo.
Há, segundo o também professor na Escola Superior de Educação, outros momentos importantes no desenvolvimento da cidade, nomeadamente já no início do século XX, com o capitão Almeida Moreira, que dotou a cidade de infraestruturas como os esgotos. “Estamos já a falar de uma cidade que cresceu, menos religiosa e mais laica, com mais ruas e planos de expansão”, sublinha Jorge Adolfo. Em 1944, lembra, Viseu era já uma cidade moderna.
Uma diferença de séculos entre os vestígios arqueológicos de uma época castreja (antes de cristo) encontrados aquando das obras de restauração do Museu Grão Vasco, a Ara romana que fala do povo “vissaieigenses” e as sete portas medievais, das quais restam apenas duas.
“Para falar de Viseu antigo é preciso ler o trabalho de muitos historiadores e arqueólogos. Nos últimos 25 anos há mais certezas graças às muitas intervenções feitas no centro histórico e à legislação que foi saindo no sentido de salvaguarda do património”, conclui Jorge Adolfo.
A História de Viseu, desde os seus primórdios até aos tempos mais recentes, foi o tema central de uma conferência que reuniu os historiadores Liliana Castilho e Jorge Adolfo. Um fórum de debate organizado pela Proviseu – Associação para a Promoção de Viseu e da Região.
“Anfiteatro romano” na Rua do Gonçalinho
atrasou obras das residências para estudantes
Quando em confronto estão dois interesses públicos, o que fazer? A pergunta foi deixada pelo presidente da Junta de Freguesia de Viseu a propósito da construção das residências para estudantes no centro histórico que estão “atrasadas” por causa dos estudos arqueológicos no local. Num fórum onde esteve em debate a formação da cidade de Viseu, a sua história e desenvolvimento, o autarca aproveitou a presença de historiadores e arqueólogos para perceber de que forma passado e futuro se podem encontrar. A resposta nem sempre é a mais fácil, mas há soluções que podem funcionar, entre elas as que já foram adotadas por municípios como Mértola ou Sines.
As residenciais foram projetadas para a rua do Gonçalinho, local que está incluído na zona de proteção especial à Sé de Viseu, pelo que qualquer intervenção carece de acompanhamento arqueológico. Até porque, como explicou a historiadora Liliana Castilho, é muito possível que ali esteja o que terá sido a anfiteatro romano, pelo que o local carece de mais estudos. “Estamos a falar de um conflito, neste caso de dois interesses públicos”, realça a historiadora.
Ora, é este acompanhamento que, segundo o presidente da Junta de Freguesia, tem vindo a atrasar a obra (já em dois anos). Diamantino Santos advoga a preservação e o estudo do passado da cidade, mas gostaria de ver “menos burocracia” no processo.
Já o professor e arqueólogo Jorge Adolfo fala em soluções que podem equilibrar os dois interesses. “O projeto desenhado para as residenciais pode incluir as musealização do que se possa encontrar lá”, exemplifica, à semelhança do que se fez com a muralha romana na Rua Formosa.
A residência de estudantes, que integra o Plano Nacional para o Alojamento no Ensino Superior (PNAES) e conta com um apoio de cerca de 1,7 milhões de euros do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), deverá ficar concluída até ao final de dezembro de 2024.
As residências contarão com uma capacidade de 52 camas “em espaços de diversas tipologias”, além de áreas comuns como cozinha e salas de refeições, de convívio, de estudo, entre outras.
Segundo a autarquia, a reabilitação “será baseada em princípios sustentáveis, quer do ponto de vista patrimonial como ambiental, permitindo respeitar alguns dos traços originais dos mesmos e garantir a sua eficiência energética”.
Para o presidente da Câmara, Fernando Ruas, a residência de estudantes “permitirá dar um passo no colmatar de um problema real, que é o reduzido número de camas que estão à disposição para acolher os nossos jovens” no centro histórico.
Além disso, toda a zona antiga da cidade beneficiará desta dinâmica e rejuvenescimento, quer o comércio, como os serviços e outros negócios.