No terceiro episódio do programa “Bem-Vindo a”, tivemos o prazer de conversar…
São mais de 100 presépios, de diferentes tamanhos e construídos ao longo…
por
Teresa Machado
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Isalita Pereira
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Joaquim Alexandre Rodrigues
Uma muralha romana, uma nova cidade na Cava de Viriato e um conquistador muçulmano que invadiu a capital do reino da Galiza. O que é que tudo isto tem que ver com a cidade de Viseu? Bem, é preciso recuar no tempo para perceber. Mais precisamente, um recuo de mil anos, até 1024, em pleno período da reconquista cristã.
Sob domínio mouro e delimitada pela muralha erguida durante o período romano – apelidada naquela altura de “muralha velha” – a cidade de Viseu era então uma urbe de tamanho reduzido. Há mil anos, Viseu pertencia à taifa de Badajoz. Para compreender o que é esta taifa num período marcado por avanços e recuos da fronteira entre cristãos e muçulmanos é necessário retroceder algumas décadas, até ao ano de 926.
Entre 926 e 931, Viseu foi capital do reino da Galiza, reino que se situava, na verdade, entre Coimbra e o rio Lima. Entre estes dois anos, a cidade vai receber o rei Ramiro II e a sua corte. Ao Jornal do Centro, historiadores explicaram que terá sido este rei o responsável pela construção da Cava de Viriato. O objetivo, esclarecem, seria o de deslocar a cidade do local que correspondia aproximadamente ao que hoje se denomina de centro histórico para a Cava de Viriato. Esta mudança, contudo, acabou por nunca se realizar.
“A cidade antigamente apanhava o alto da Sé e aquela encosta toda que desemboca na rua Capitão Silva Pereira”, contou ao Jornal do Centro um professor de história. “Haveria um grande aproveitamento daquilo que seria a cidade romana”, disse ainda.
Algumas décadas mais tarde, a Cava de Viriato ganharia nova importância, desta vez para alojar um conjunto de tropas muçulmanas lideradas por Almançor (do árabe al-Mansur). Este líder mouro conquistou a cidade de Viseu em 997, numa campanha militar que levaria a fronteira entre cristãos e mouros até ao rio Douro. “Depois de os cristãos terem avançado para sul no processo de reconquista, o Almançor empurra a fronteira até ao Douro, excluindo-se apenas a região de Santa Maria da Feira”, contou o historiador. “No ano 1000 é essa a fronteira existente, só depois é que os cristãos vão empurrar novamente a fronteira para sul”, disse.
Para conquistar cidades como Viseu ou Coimbra, Almançor não utilizou apenas tropas muçulmanas, tendo-se servido igualmente de tropas cristãs para o efeito. A utilização de tropas da religião contrária, que eram autênticos mercenários, era algo comum na altura, uma vez que além do inimigo da religião contrária, os vários líderes mouros e cristãos partilhavam ainda quezílias entre si. “A reconquista foi feita de um lado e do outro, porque os mouros também estão num território 300 ou 400 anos e depois são expulsos, pelo que depois querem é reconquistar aquilo que era deles”, explicou ao Jornal do Centro.
Almançor, líder do califado de Córdova e responsável pelo alargamento da fronteira até ao rio Douro, morreu no ano de 1002. O trono passou então para o seu filho, que viria a morrer alguns anos mais tarde. Em 1012, o califado fragmentou-se, dando origem a várias taifas, semelhantes a pequenos reinos muçulmanos. Uma delas, a taifa de Badajoz, ocupava uma parte significativa daquilo que é hoje Portugal e na qual se incluía a cidade de Viseu. Além da taifa de Badajoz, existiam ainda outras taifas como as de Sevilha, Mértola, Toledo ou Silves.
Embora Viseu seja apenas reconquistada pelas forças cristãs em 1058, a morte do então rei de Leão Afonso V, no ano de 1028 durante um cerco a Viseu, mostra que esta cidade era já cobiçada pelos cristãos muito antes da sua reconquista. O responsável pela retirada de Viseu do “jugo sarraceno” dar-se-ia pela mão de Fernando Magno, também ele rei de Leão e Castela.
Ainda sob domínio mouro, é possível, contou o especialista, que a cidade de Viseu contasse com uma fortificação naquele que é hoje o local da Sé, embora esta não pudesse ser considerada ainda um castelo. Apenas com D. Teresa e o conde D. Henrique, pais de D. Afonso Henriques, é que a cidade vai ter um projeto de construção de catedral, de um castelo e de um paço condal, no alto onde é atualmente a Sé. “Até ao século XIV, Viseu chegou a ter castelo ou pelo menos uma fortificação semelhante a um castelo”, detalhou o historiador.
Há mil anos, Viseu contava ainda com duas igrejas. Uma delas, a mais antiga e a principal da cidade, situava-se no local onde está a atualmente a Igreja de S. Miguel de Fetal, perto do Fontelo. A segunda igreja, que acabaria por desaparecer, situava-se no local onde se encontra atualmente a esquadra da PSP de Viseu, e daria pelo nome de Igreja de S. Martinho. Até 1147, é o bispo de Coimbra quem governa, do ponto de vista religioso, a diocese de Viseu. A partir desse ano, contudo, a cidade passa a contar com bispo próprio.
O traçado urbano de Viseu no ano de 1024 é ainda algo que está envolto em algum mistério, assumiu o historiador. “A arqueologia tem tido um papel importante, mas não têm sido encontrados vestígios muito significativos dessa cidade”, esclareceu o especialista. “Quando aparecem vestígios são coisa aparecem vestígios são coisas que remontam mais para a época romana”, concluiu.