Diogo Paredes

24 de 04 de 2024, 18:30

Cultura

Filme de Rui Simões sobre o 25 de Abril com antestreia esta quarta-feira no IPDJ de Viseu

“Assim que percebi que era um golpe militar e que a ditadura tinha acabado, eu e outros amigos viemos imediatamente para Lisboa”. Obra mistura ficção e realidade marca os 50 anos da Revolução dos Cravos e de carreira do cineasta

Primeira Obra, Rui Simões CR: Rui Simões

Fotógrafo: Rui Simões

“Primeira Obra”, o mais recente filme do realizador Rui Simões, estreia nas salas de cinema de todo o país esta quinta-feira, dia 25 de abril. Antes, contudo, o filme conta com uma sessão especial que decorre esta quarta-feira às 21h00 no auditório do Instituto Português do Desporto e Juventude de Viseu. A obra cinematográfica celebra não apenas os 50 anos do 25 de Abril, como os 50 anos de carreira de Rui Simões.

A obra, além de ser o primeiro filme de ficção de Rui Simões, contém ainda um elemento autobiográfico, uma vez que tem como ponto de partida o anterior filme do realizador. “Primeira Obra” retrata a história de um jovem investigador luso-descendente, Michel, que procura pesquisar uma “Revolução por cumprir”. Em conversa com Simão, histórico cineasta, Michel procura respostas para o seu filme, ao mesmo tempo que conhece Susy, ativista do ambiente por quem se apaixona.

“O Cine Club Viseu é para nós um cine club bastante importante e nós decidimos descentralizar tudo e percorrer vários sítios antes de voltar a Lisboa. Há aqui, portanto, uma vontade de ir para o interior do país e apenas depois para Lisboa”, contou ao Jornal do Centro o cineasta português.

Já em relação à mistura entre ficção e realidade, Rui Simões explicou que a ideia surgiu depois da visita de um estudante lusodescendente de doutoramento em cinema que, assim como Michel, procurou saber mais em relação a um anterior filme de Rui Simões. “Escrevemos uma história de ficção, pelo que é a minha história sim, mas é com atores. São tudo histórias que se cruzam entre a realidade e a ficção e o filme anda por esses territórios”, afirmou o realizador. O filme foi gravado entre Lisboa e vários locais do Ribatejo.

Com 80 anos de vida e 50 de carreira no cinema, Rui Simões experienciou na primeira pessoa a Revolução dos Cravos, embora à distância. Isto porque, na altura, o cineasta encontrava-se exilado na Bélgica. “Eu tinha um passaporte da ONU e podia viajar para todos os países menos Portugal”, contou. “Tinha cá os meus pais, tinha cá os meus dois filhos, tinha amigos. Quando dou conta do que aconteceu realmente não hesito em voltar a Portugal”, assumiu.

“Assim que percebi que era um golpe militar e que a ditadura tinha acabado, eu e outros amigos viemos imediatamente para Lisboa e decidimos ficar para trabalhar. Viemos com algum receio, mas aos poucos fomos percebendo que o que estava em questão era o país abrir-se a uma nova vivência, a uma nova ideia de convívio e a uma democracia que se adivinhava”, disse ainda.

Rui Simões conta com duas obras cinematográficas que marcaram a documentação do 25 de Abril estas “Deus, Pátria, Autoridade” e “Bom Povo Português”.