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20 de 04 de 2024, 14:02

Diário

“Estamos a fazer entre 950 a 1000 consultas por mês”

Sérgio Raposo, diretor do serviço de Otorrinolaringologia da Unidade Local de Saúde Viseu-Dão Lafões

Sérgio Raposo_diretor do serviço de Otorrinolaringologia UL Viseu Dão Lafões

Fotógrafo: Jornal do Centro

Há muitos doentes a recorrerem ao serviço?
Temos mais porque também aumentámos o número de especialistas e havendo uma maior oferta, há uma maior procura. Estamos a fazer entre 950 a 1000 consultas por mês, sendo que um terço delas são primeira consulta, ou seja, cerca de 300, o que é um número considerável. Ainda assim, estamos com oito a nove meses de espera, já chegámos a ter seis, porque estivemos parados durante algum tempo na Covid-19 e agora é a situação inversa. Estamos a fazer todos os possíveis para controlar esse aumento, nomeadamente com mais consultas, ainda que estejamos quase no máximo da nossa capacidade de resposta, mas estamos satisfeitos. Atualmente, somos um grupo com 10 especialistas.

Como tem evoluído o serviço ao longo dos anos?
Uma coisa muito importante foi termos adquirido a idoneidade total, que nos permitiu ter um interno por ano e não necessitamos de ir para outros hospitais para obter formação de internato para sermos especialistas, temos apenas é um acordo com o IPO, porque não temos essa valência. Esta idoneidade dá também ao serviço um reconhecimento da sua capacidade, que é comprovado pelo número de consultas, pela satisfação das pessoas e também pela satisfação dos internos. No ano passado, a primeira vaga de otorrino a ser escolhida a nível nacional foi a nossa, o que nos dá um certo orgulho. Também em termos de médicos especialistas, há vários que estão interessados em vir para o nosso hospital, mas não os podemos ter, porque temos o quadro cheio e, preferencialmente, queremos que fiquem os internos formados por nós.

Quem procura o serviço? Há um “doente tipo”?
Pessoas com todo o tipo de patologistas do serviço, desde desvio de septo, amigdalites, o ressonar das crianças, a patologia da voz, que são cerca de 10 por cento das consultas que nos aparecem. Globalmente, todo o panorama de otorrinolaringologia aparece nas nossas consultas.

No caso das crianças, quais são as principais patologias?
As amigdalites de repetição e as roncopatias (ressonar). Há também as deficiências da arcada dentária, muitas vezes os dentistas encaminham doentes para ver a possibilidade ou não de colocar o aparelho, porque isso tem muito a ver com a respiração e pedem-nos uma resposta para ver se é preciso alguma intervenção nossa, para que depois os dentistas possam agir e colocar os aparelhos de correção dentária. No serviço, mediante o que nos chega, damos prioridade às patologias oncológicas e para as apneias prolongadas das crianças.

Nas crianças, que sinais devemos ter em atenção?
Perceber se as crianças ressonam muito, se fazem paragens respiratórias durante a noite, porque isso são situações que se forem muito prolongadas exigem uma intervenção bastante rápida. Há também a questão das otites de repetição, porque a parte respiratória influencia muito os ouvidos, havendo uma má ventilação e uma grande hipertrofia das adenoides, que tapa a trompa e não deixa haver um arejamento suficiente, faz com que haja otites de repetição e aí é necessária a nossa intervenção, quer no sentido de restabelecer a parte respiratória, quer intervir cirurgicamente para colocar uns tubos de arejamento.

Que hábitos devem ser incutidos nos mais novos para evitar alguns problemas?
Não gritar. Sei que não é fácil, mas devemos tentar ensinar as crianças a não gritar.

E nos adultos, quais são as patologias mais comuns?
Patologias nos ouvidos, as pessoas idosas que ouvem mal e que necessitam de cuidados ou de extração de cerume [cera], perfurações antigas ou perdas de audição relacionadas com o envelhecimento do próprio ouvido. Depois temos a parte do nariz, desvios de septo, traumatismos nasais decorrentes de desvio do septo nasal, que fazem com que haja uma má ventilação e podem provocar sinusite de repetição. Sinusite que pode ser corrigida, ou eliminada, se corrigirmos a parte de ventilação do nariz.

E nestas idades, quais os cuidados a ter?
No caso da voz, não fumar e evitar o conjunto de tabaco e álcool. Mais de um maço por dia é dramático. Hidratar também é muito importante, beber muita água. O pigarreio e a voz lanringia, ou seja, deve evitar-se falar com os músculos da laringe, a voz tem que vir de baixo, deve ser projetada da parte do diafragma para que possa ser lançada sem o esforço dos músculos laríngeos.

Como gostava de ver o serviço daqui a uns anos?
Acredito que este é um serviço com futuro, atualmente temos três médicos acima dos 60 anos e os outros têm todos abaixo de 40, é uma equipa jovem e muito profissional. Talvez seja o serviço mais jovem do país. O serviço de otorrino conta ainda com o apoio de uma equipa de enfermagem de internamento, uma equipa de enfermagem na consulta e de técnicas de audiologia e da terapia da fala. Mas, gostava de ver este serviço num crescendo e, como disse, sei que teremos futuro porque são jovens muito interessados e que só terão tendência a melhorar.