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19 de 04 de 2024, 10:47

Diário

CDS tem congresso em Viseu e deve começar a pensar em “caminhar sozinho”

Partido reúne-se este fim de semana no Pavilhão Cidade de Viseu. Líder centrista em Viseu, Hélder Amaral, diz que direção de Nuno Melo cumpriu com os objetivos definidos no último congresso e que o partido não só regressou ao Parlamento, como ao Governo. Agora, é preciso recuperar eleitorado para que não caia em partidos que “são perigosos para a democracia portuguesa”

bandeira cds

O regresso do CDS ao Parlamento e ao Governo vão marcar o 31.º congresso do partido que se realiza este fim de semana em Viseu. A reunião magna tem como objetivo eleger os novos órgãos internos, mas será a altura de proclamar os resultados das legislativas de 10 de março. Um congresso que surge numa altura de “felizes coincidências” que mostram que “o partido é útil”, como sublinha Hélder Amaral, coordenador distrital do CDS, mas que já pode caminhar sozinho.

“O objetivo da atual direção era devolver o CDS aos sítios de onde nunca deveria ter saído, ou seja ao Parlamento. Portanto, este congresso tem este objetivo cumprido. Mérito total de Nuno Melo e da sua direção. O CDS realiza o congresso em Viseu, regressando ao Parlamento e ao seu lugar próprio na democracia portuguesa”, sublinha Hélder Amaral. “Não só regressa ao Parlamento, como regressa ao Parlamento e ao Governo”, reforça ainda o ex-deputado.

Para o centrista, com a missão cumprida e “com sucesso”, agora o partido tem de olhar para o eleitorado. “A direção cumpriu o seu objetivo, voltámos a reencontramo-nos com a nossa história e connosco próprios e o que eu espero do Congresso é que, reposta a normalidade, o CDS seja capaz de fazer o seu reencontro com o seu eleitorado”, assumiu.

E para isso, segundo Hélder Amaral, é preciso perceber a utilidade do partido e não deixar que ele caia num “modelo dos Verdes (partido de coligação com o PCP que faz a CDU)”.

“Não sei se se falará no congresso, mas coligações para as legislativas, coligações para as europeias, para as autárquicas… se calhar o partido tem de responder afinal de contas qual o seu papel em termos individuais no futuro. Isto tem de ser discutido”, disse.

Para Hélder Amaral, o CDS não deve ser medido só pela sua dimensão eleitoral, mas pela sua utilidade. “O CDS não só foi sempre útil, e foi-o na consolidação e implementação da democracia em Portugal, como o foi nos momentos mais difíceis, por exemplo, com Passos Coelho. Desta vez não estamos num momento de excepcionalidade, mas, uma vez mais, o CDS foi útil para a mudança do Governo e os dois deputados eleitos fazem toda a diferença. Mais uma vez o CDS provou a sua utilidade”.

Como outro exemplo dessa “utilidade”, Hélder Amaral aponta as autarquias do distrito de Viseu onde o PSD ganhou em coligação com o CDS, como Lamego, Nelas ou Oliveira de Frades.

“Espero que este congresso seja de reforço da presença autárquica e depois recuperar eleitorado que fugiu para partidos que têm muito menos utilidade e que são perigosos para a democracia portuguesa”, sustentou ainda, frisando que definido o modelo para as eleições europeias deste congresso o que pode ficar definido são os nomes a integrar na lista a apresentar com o PSD.

Nuno Melo assumiu liderança há dois anos
O CDS-PP concorreu às eleições legislativas de 10 de março em coligação com o PSD e o PPM, a Aliança Democrática (AD), e elegeu dois deputados: Nuno Melo (atual ministro da Defesa) pelo Porto e Paulo Núncio pelo círculo eleitoral de Lisboa. O presidente do CDS-PP, Nuno Melo, será recandidato ao cargo.

Os centristas voltam a ter representação no Parlamento nesta legislatura, depois de em 2022 não terem conseguido eleger nenhum deputado, tendo ficado afastados da Assembleia da República pela primeira vez em democracia.

De acordo com o regulamento da reunião magna, disponível no ‘site’ do partido, as Moções de Estratégia Globais e as setoriais tiveram de ser entregues à Comissão Organizadora do Congresso até 1 de abril. O pavilhão Cidade de Viseu recebe o encontro.

A última reunião magna de cariz eletivo realizou-se em abril de 2022, altura em que Nuno Melo assumiu a liderança do CDS-PP depois de a sua Comissão Política Nacional obter 74,93% dos votos dos delegados ao 29.º congresso.

O eurodeputado sucedeu a Francisco Rodrigues dos Santos, que se demitiu da liderança depois de conhecido o resultado das legislativas desse ano, o pior em 47 anos de história do partido.

Também em 2022, em julho, o CDS realizou, em Aveiro o seu 30.º Congresso que se dedicou exclusivamente à alteração de estatutos.

Nuno Melo quer “consolidação e crescimento” do CDS
Já o presidente do CDS-PP defende na moção de estratégia global que apresenta ao congresso que proclamar o desaparecimento do partido foi “uma avaliação precipitada” e assume querer lançar “um projeto realista, mas confiante, de consolidação e crescimento”.

Nuno Melo é o primeiro subscritor da moção “Tempo de Crescer”, que vai levar ao 31.º Congresso do partido. Na liderança do partido desde 2022, Melo recandidata-se para mais um mandato de dois anos, sem opositor.

“Depois de um tempo de resistência e de construção, chegou então o momento de relançarmos um projeto realista, mas confiante, de consolidação e crescimento do CDS-PP no futuro”, defende.

Na moção, Nuno Melo salienta o papel dos centristas nas autarquias, regiões autónomas, Assembleia da República, governos e no Parlamento Europeu, e considera que o CDS-PP é um “projeto político incontornável e insubstituível”.

Afirmando que “foi assim no passado e é assim no presente”, o recandidato à liderança refere as mais recentes eleições legislativas, que se disputaram em 10 de março e salienta que “o CDS-PP voltou a ser determinante, em conjunto com o PSD, através da Aliança Democrática, para a derrota do PS e das esquerdas”.

Lembrando que o CDS-PP já integrou vários governos e volta agora a fazê-lo, o também ministro da Defesa Nacional sustenta que é “um dos partidos mais importantes da democracia, que já deu muito ao país, com uma enorme experiência governativa, e que está hoje uma vez mais preparado para servir os portugueses no Governo e no parlamento”.

Depois de um período de dois anos em que não teve representação na Assembleia da República, Nuno Melo salienta também na moção que o CDS-PP voltou a ter um grupo parlamentar, com dois deputados, mostrando-se confiante que no futuro aumentará o número de deputados.

“Houve quem - sobretudo no extremo, à esquerda - desse a nossa ausência por garantida. Foi uma avaliação precipitada", sustenta.

No texto, o presidente do CDS-PP faz também um balanço positivo do mandato e, a nível interno, destaca a construção de “pontes com espírito de reconciliação, unindo o partido” e a “reestruturação administrativa e financeira”, reduzindo “em cerca de 900 mil euros, ou seja, em mais de metade, a dívida do partido, liquidando todo o passivo bancário recebido", o que permitiu cancelar as "hipotecas pendentes sobre os imóveis próprios”.

O líder salienta ainda que o partido manteve a sede nacional, no Largo Adelino Amaro da Costa, em Lisboa, depois de o Chega ter anunciado querer ficar com o edifício, e refere que a “resistência pode mais do que quaisquer violências e do que qualquer jactância”.

No que toca aos próximos atos eleitorais, o presidente do CDS-PP diz que o partido “será solidário com a estratégia e estará empenhado no esforço necessário ao melhor resultado a alcançar" nas regionais da Madeira e quanto às eleições europeias justifica que “são novamente circunstâncias lógicas e específica que justificam uma candidatura conjunta do PSD e do CDS-PP”, com “a adequada representação e mobilização”, mas sem especificar.

Já em relação às eleições autárquicas, previstas para 2025, o objetivo é manter a liderança das seis autarquias “ou aumentar este número”.

A moção detalha ainda algumas medidas para o país em diversas áreas, incluindo na Defesa, pasta que Melo tutela, defendendo a “atualização dos incentivos ao recrutamento” e “a modernização e a adequação dos equipamentos e instalações”, e propondo que o país caminhe “faseada e progressivamente para a melhoria do compromisso com a NATO”.

Nuno Melo propõe ainda ao congresso uma alteração aos estatutos e a maior mudança prende-se com o Conselho Nacional de Jurisdição passar de sete para 11 membros e funcionar em sessões plenárias e com duas secções. A proposta visa ainda limitar até quatro anos a sanção de suspensão de um militante.