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10 de 05 de 2024, 14:18

Diário

Quando a Fé é grande, mas o sentimento de aventura é ainda maior

A peregrinação a Fátima além de um ato de fé é também uma jornada de procura e evolução. Todos os anos, milhares de peregrinos entregam-se à estrada com o propósito de demonstrar que através de esforço, dedicação e fé, nenhum desafio é grande demais para ser ultrapassado. Mas será esse o principal motivo que leva os fiéis a embarcar nesta viagem?

Henrique Soares

Carlos Castanheira, proprietário de uma das casas de pastéis de Vouzela, nunca deixou que o seu trabalho e responsabilidades o impedissem de cumprir a tradição que já pratica desde os seus 17 anos. “Ora bem, Fátima. Estamos em 2024. Desde 2000 até agora, já fui 27 vezes. Sim, 27 vezes”, diz com um sorriso no rosto.
Todos os anos, de mochila às costas, sapatilhas nos pés e família de lado, ruma em direção ao santuário de Fátima. Os preparativos para a viagem são simples. As suas sapatilhas favoritas, uma mochila grande o suficiente para levar alguns mantimentos básicos e um coração grande o suficiente para receber todos os amigos, conhecidos e parceiros que faz pelo caminho. “Às vezes as pessoas dizem que é precisa uma preparação gigante, mas eu não faço preparação nenhuma para caminhar. As caminhadas que eu faço é aqui no meu trabalho, para trás e para a frente”, conta.
Os dias gastos na viagem são bem recompensados. Embora haja complicações pelo caminho e problemas quando menos se espera - uma aventura não seria uma aventura sem obstáculos - com cada complicação resolvida vem uma nova história para contar. “Nós, todos contentes, a chegar à hora de comer. Quando chegamos ao local em que íamos almoçar não havia comer. Não havia comer porquê? Faltou o gás. Então o pessoal desenrascou-se como pôde, começámos ali a comer um pouco de queijo e presunto. Algum tempo depois, lá descobrimos que naquela povoação existia um cafezinho, porque ninguém se lembrou daquilo. Mas não adiantou muito, porque estávamos nós a ir para lá, quando aparece um dos nossos ajudantes de apoio com uma botija às costas e lá se fez o almoço”, recorda.

Mas mesmo nos momentos mais negros, em que sentimentos negativos começam a surgir, há sempre espaço para a comédia e tempo para umas gargalhadas. “Uma vez, numa das primeiras peregrinações que fiz parámos perto de Pombal para dormir. Naquele tempo, os peregrinos ainda não ficavam em casa de pessoas ou nos bombeiros, que agora nos dão abrigo. Nós levávamos um carrito de apoio, montávamos uma barraca com um toldo e descansávamos onde parássemos. Ali parecia um bom sítio, então jantámos, arranjámo-nos da melhor maneira e fomos dormir. De repente o pessoal só começa a se queixar: “Ai morde-me, Ai morde-me”. Olha ligamos as lanternas e nem queríamos acreditar… Era tanta pulga, tanta pulga que nem Deus lhes dava vazão. Era um sítio onde tinham estado a malhar centeio. Malharam naquele lugar e o calor atraiu os parasitas. Olha… o pessoal ao outro dia não se parava de coçar. E embora estivéssemos todos a morrer, não conseguíamos parar de rir com a toda a situação. Eram outros tempos”, relatou.

Na conversa com o Jornal do Centro, Carlos admitiu que este ano não conseguirá estar presente no 13 de maio, mas fará a viagem em setembro.
Tal como qualquer outra peregrinação, os sentimentos de entreajuda e fé também estão sempre presentes, permitindo não só seguir em frente, mas também criar um sentimento de sucesso e orgulho em todos aqueles que concluem a jornada. “Eu prometi. Enquanto eu puder farei esta peregrinação. Não só pela minha saúde, mas também pelo bem-estar dos meus filhos. Em agradecimento e em ação de graças à Nossa Senhora”.