Autor

Pedro Baila Antunes

12 de 11 de 2023, 15:43

Colunistas

Cobertura do Mercado 2 de Maio, o que não devia ter sido, mas agora tem de ser!

Será desta que o movimento pedonal diurno, historicamente característico, volta às ruas do Centro de Viseu?

Bem no “centro do Centro” da cidade de Viseu, está prestes a ser inaugurado o renovado Mercado 2 de Maio. O seu impacto é muito expressivo ao nível arquitetónico e patrimonial. Também o será ao nível comercial e da vida urbana? Será desta que o movimento pedonal diurno, historicamente característico, volta às ruas do Centro de Viseu?
A requalificação de coautoria de Siza Vieira era uma Obra indelével de um nome maior da arquitetura mundial.
Pese o gradeamento para a Rua Formosa (para muitos um erro capital), o Mercado 2 de Maio, inserido numa área urbana densificada, deveria conjugar-se com a Cidade enquanto espaço nobre ao ar livre, para passagem e fruição de todos. Porém, com o arrastar dos anos sobre a Obra, ia ficando evidente que esta não era assimilada ou vivenciada pela Cidade e pelos viseenses. Tão pouco, era uma praça de cruzamento de trajetos pedonais no seu quotidiano.
Era, há muito, a voz corrente em Viseu que “algo teria de ser feito”!
Contudo, a solução adotada para dar vida ao Mercado 2 de Maio emergiu de um concurso de ideias com decisões pouco claras e sem um debate público alargado. O projeto ganhador (depois alterado) não foi consensualizado com Siza Vieira. A cobertura, com a sua conformação espacial retilínea e massiva, “abafa” o espaço urbano e é dissonante com a identidade e o valor patrimonial da envolvente.
A estrutura de ferro “industrializada” ainda ficou mais pesada para suportar os vidros fotovoltaicos que sombreiam um espaço que se desejava luminoso e fotossintético… Sim, as magnólias continuarão pouco frondosas, perdidas naquela praça coberta. Isto em prol da aplicação de uma tecnologia imatura, rapidamente obsoleta, com uma mais-valia energética negligenciável, que fez disparar os custos, mas que soou bem nos sucessivos anúncios políticos da Obra.
Pelas razões referidas, enquanto vereador da oposição (2017-2021), votei sempre contra a cobertura do Mercado 2 de Maio.
Desde o início, em surdina, muitos viseenses discordaram do processo da requalificação do Mercado. Porventura já demasiado tarde e ativo apenas através de uma petição pública, foi organizado um movimento cívico, encimado por personalidades nacionais da área do património e da arquitetura que estavam contra o atentado patrimonial da Cobertura.
Fernando Ruas também assumiu publicamente ser contra o Projeto e o desvirtuamento da Obra de Autor (por si encomendada). Reassumindo a presidência da Câmara já com a empreitada de construção em curso, como Homem da causa pública, com coerência partidária e rigoroso na gestão dos dinheiros públicos, conduziu politicamente com muita sensibilidade e savoir-faire esta herança. Nesta fase que antecede a reabertura, tem sido manifesto o seu empenho sério para que a requalificação seja um sucesso, surta efeito e atraia pessoas para o centro histórico.
Foi definido um programa de ocupação como praça da restauração, num modelo de sucesso que se tem reproduzido por muitas cidades de maior dimensão. Está a finalizar a hasta pública para a atribuição das lojas. Estas “misturar-se-ão” com lojas de setores díspares da restauração, com direitos adquiridos anteriormente.
É crucial agora que o Município implemente um amplo programa de divulgação e animação cuidado e inteligente.
O Mercado 2 de Maio tem de ter a dinâmica e o élan para “cair no goto” de todos, não pode converter-se num “elefante branco“. A expectativa é grande! Há notoriamente muitos viseenses e agentes económicos atraídos pela imponência e o potencial da intervenção.
A Cidade, os viseenses, os comerciantes e outros agentes terão de integrar-se na vida urbana com o novo equipamento. A sua originalidade, uma certa aura cosmopolita que transmite e a sua multivalência, que permite até a realização de eventos de animação o ano todo, podem contribuir decisivamente para o seu sucesso.
O centro da Cidade, com uma atividade comercial reduzida, de que a Rua Direita é paradigmática, continua com um movimento de rua que não se compara a outrora. Em contraponto, outras cidades da escala de Viseu (p.e. Aveiro, Coimbra ou Leiria) já recuperaram o movimento e a animação diurna das ruas, o comércio e os serviços, o que se acentuou no pós-pandemia.
Pese os atrasos e os custos acrescidos, o renovado Mercado 2 de Maio está aí! O seu eventual sucesso poderá ser o catalisador para a almejada revitalização do centro histórico da cidade de Viseu. Será?