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14 de 05 de 2022, 08:47

Diário

‘ Creio que os cidadãos percebem isto. O dinheiro que vai para a guerra não vai para acabar com a fome’

A presidente do Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC), Ilda Figueiredo anu ciou que as mobilizações e concertos contra o fim dos conflitos vão continuar a acontecer nos próximos tempos por todo o país. Em Viseu, onde esteve durante o congresso da FENPROF que hoje termina, a dirigente disse que a Educação para a Paz é fundamental e que os recursos utilizados na guerra deveriam ser usados para resolver as necessidades primárias no mundo

Ilda Figueiredo CPPC

Fotógrafo: Igor Ferreira

Estamos num congresso de professores. É nas escolas que se deve começar a educação pela paz?
O Conselho Português para a Paz e a Cooperação pensa que a educação para a paz é algo fundamental. É de pequeno, de jovem, que se deve ser sensibilizado para uma cultura de paz, contra a violência, na defesa da negociação, do diálogo, de convívio e solidariedade para resolver conflitos e problemas que sempre existem e até nas escolas.
As crianças aprenderem que há princípios constitucionais, como o artigo 13, que diz que somos todos iguais perante a lei mas que temos de ter em conta as diferenças que existem e que têm de ser respeitadas. Este artigo é uma das bases do diálogo do CPPC nas escolas, sempre neste aspeto da democracia participativa, no respeito pelas diferenças. É nas escolas que este trabalho começa.
Uma cultura de paz para que não haja uma cultura de guerra, em que não se considere que a guerra é a resposta para resolver os problemas, porque não é. É a diplomacia e a cooperação que devem resolver os conflitos.


Tendo em conta o atual contexto em que ainda não foi encontrada uma resolução para a guerra entre Russia e Ucrânia, podemos esperar grandes mobilizações no futuro dinamizadas pelo CPPC?
Si, e não é só na Ucrânia. Temos muitos outros, por exemplo, na Palestina e ainda há dias Israel matou uma jornalista. Todos os dias há problemas, como no Saara Ocidental, no Iémen e nas muitas outras guerras que têm assolado este mundo. Nós, no CPPC, estamos a considerar um grande alargamento, como aliás temos feitos nos encontros, com muitas organizações,. Por exemplo, os concertos pela paz como estamos a realizar. Este ano já fizemos em Matosinhos, em Gondomar, no Porto e este sábado estamos em Gaia e na próxima semana, a 21, em Lisboa, com o apoio das câmaras municipais..
Não estamos quietos, estamos sempre a trabalhar na promoção da paz e estamos a preparar grandes iniciativas para junho.


É só desta forma que o Conselho para a Paz e Cooperação se pode fazer ouvir nas organizações internacionais?
O CPPC é uma organização não governamental e não tem participação em nenhum órgão institucional. Eu estou aqui como cidadã e como membro do Conselho Português para a Paz e Cooperação que é uma organização unitária. O que fazemos é esta mobilização das pessoas contra a guerra. Temos a nossa frase “Paz sim, Guerra não” que diz tudo porque é preciso parar a guerra seja na Ucrânia, seja noutros lados. É preciso respeitar os direitos do povos. É preciso parar com a corrida aos armamentos e respeitar os princípios da Carta da ONU, mas também da ata final da Conferencia de Helsínquia que aponta caminhos para a resolução de problemas.

Preocupa-lhe as posições que têm sido tomadas agora com a situação na Ucrânia e numa altura em que se fala da entrada de países como a Finlândia para a NATO?
O Conselho Português para a Paz e Cooperação considera esta decisão muito preocupante porque se insere numa prática de corrida e reforço aos armamentos e nós consideramos que isso só pode trazer perigos para a humanidade. O que nós queremos é o contrário, e como diz o artigo 7 da Constituição Portuguesa, queremos uma política de desarmamento geral simultâneo e universal. Esta é uma posição clara que a própria ONU defende nos seus princípios que é avançar com a diplomacia para a resolução dos problemas.
A corrida ao armamento leva à guerra, leva a que recursos fundamentais para acabar com a fome, com as desigualdades e para resolver problemas como a saúde, educação e habitação em Portugal e no mundo fiquem adiados porque os recursos são limitados e se eles vão para as armas deixam de ir para resolver os problemas das necessidades fundamentais das pessoas e para o desenvolvimento da humanidade. Creio que os cidadãos percebem isto.