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27 de 04 de 2024, 10:00

Diário

25 de Abil: Desde as primeiras notícias… em Viseu, não se viu ninguém com medo

Uma explosão de alegria foi o que as pessoas sentiram quando na manhã de 25 de Abril, num dia que se esperava de rotina, a notícia chegou de que a Revolução estava na rua. Ainda sem saber muito bem o que se passava, as pessoas saíram à rua e ficaram junto dos militares. Três dias depois, a 28 de Abril, foram muitos os que “sem medo” cantaram e gritaram pela Liberdade

Cravo 25 de Abril

Fotógrafo: Igor Ferreira

Nas primeiras horas da manhã de 25 de abril de 1974, Prazeres Sousa preparava-se para ir abrir o restaurante, ali na Rua Direita, em Viseu, junto às instalações onde se fazia a recruta militar, quando ouviu da rádio que na rua havia uma revolução para depor o regime.

“Ligava sempre a rádio porque guardava as chaves do restaurante debaixo dele”, conta a proprietária da Congolesa. Nas primeiras horas, ficou colada ao transistor para perceber o que se estava a passar. Mais tarde, desceu e abriu o restaurante. “Tinha muitos clientes que eram militares. Furriéis, sargentos, soldados… todos vinham ali tomar café. E ali estávamos nós todos colados à rádio para ouvir as notícias”, recorda. É que, frisa, as pessoas saíam à rua mas ficavam junto dos militares.

Prazeres de Sousa lembra o 25 de Abril como um “dia de uma alegria muito grande”. “Toda a gente estava contente. Sabe menina, é que éramos muito oprimidos. Foi como se pudéssemos, finalmente, respirar”. Tinha já 29 anos quando se deu o 25 de Abril, mas Prazeres Sousa recorda os anos de medo. “Antes não se podia dizer nada. Tive familiares meus perseguidos pela PIDE. Quando era mais nova a frase que mais me lembro de ouvir era ‘cala-te que as paredes têm ouvidos’”.

Outro momento marcante para Prazeres Sousa aconteceu três dias depois, a 28 de abril. “Foi um dia de festa autêntica. Toda a gente na rua em manifestação e agradecimento. Eu não fui que tive de ficar no restaurante, mas o meu marido estava lá. Ele disse que foi bonito, que em Viseu não viu ninguém com medo”.

“Eu diria que foi uma explosão de alegria, sobretudo para os jovens que estavam numa ânsia muita grande de liberdade. Lembro-me de ali junto à entrada da Avenida Salazar alguém ter posto o cartaz Avenida 25 de Abril, na altura um ato simbólico”, recorda, por seu lado, Carlos Vieira. Já Carlos Neto lembra-se de ir com um grupo de amigos, abraçados, a cantar Maré Alta de Sérgio Godinho.

A “Revolução” em Viseu, saiu à rua no dia 28 de abril. Há vários testemunhos que contam como foi a tarde deste dia, entre eles a do escritor Jaime Gralheiro, já falecido, que no livro “Os dois PREC’s no distrito de Viseu” conta como foi viver o 25 de Abril.

Conta o advogado de S. Pedro do Sul, que pelas 14h00 as pessoas juntaram-se junto à estátua de Viriato. Vieram de toda a parte do distrito, desde Mortágua, Tondela, Mangualde, S.Pedro do Sul, Castro Daire, Moimenta da Beira e Lamego. Daí partiram para o Regimento de Infantaria (RI) 14. O percurso foi feito pela avenida Emídio Navarro, passou pelo centro da cidade e foi em direção ao quartel. Pelas ruas, a população erguia cartazes e bandeiras, ouvia-se a multidão a gritar “O Povo está com o MFA!” ou “O Povo Unido jamais será vencido!” e “Morte ao Fascismo”, “Viva o 25 de Abril”, “Viva a Liberdade” e “Viva o General Spínola” e “Viva o Partido Comunista Português” entre outras. “Enquanto isso os apoiantes do regime fascista escondiam-se nas suas casas de precianas fechadas, enquanto ouviam a revolta que se passava nas ruas”, descreve.

Das várias figuras ilustres, que marcaram presença na manifestação, Jaime Gralheiro destaca Álvaro Monteiro, Armando Lopes, Almeida Henriques, João Lima e a família Lopes. Separados por algumas dezenas de metros estavam aqueles que estavam ligados ao PCP como Fernando Mouga, Osvaldo Peliz, António Bica e ainda Diamantino de Oliveira Henriques.

Acabou por ser Jaime Gralheiro que, em nome de todos os manifestantes, agradeceu publicamente ao MFA. Outro momento importante relatado por Jaime Gralheiro é o 1.º de Maio, cinco dias depois da queda do regime.

Recorda como S. Pedro do Sul se começou a organizar-se politicamente, tal como acontecia por todo o país. Foi no primeiro de maio, Dia do Trabalhador, que a partir daquele ano começou a ganhar outro signifi cado, que se deu a primeira ação revolucionária no seu concelho. Foi por volta das 14h00 que cartazes e bandeiras vermelhas se ergueram em frente da câmara e onde se ouvia o povo a exclamar “vivas à liberdade” e “morras ao Fascismo”, e com algumas reivindicações rurais.

O autor recorda vários episódios da sua vida nesta obra, desde momentos em criança até à fase do pós 25 de abril. Não deixa de salientar a importância desta data e o impacto que teve em si. Desde a sua bagagem com histórias, certamente deixou um marco não só na cidade de Viseu como em todos que são desejam ser livres. Também aborda outros temas, durante o Estado Novo, como a seguir ao dia da Revolução, licenciado em Coimbra, faz questão de abordar “A crise académica de 69”, a guerra do Ultramar, entre outros episódios que fi caram na história de Portugal.

Jaime Gralheiro, dramaturgo e advogado português, licenciou-se em Direito pela Universidade De Coimbra e foi o primeiro presidente da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de S. Pedro do Sul. Nasceu a 7 de julho de 1930 em S. Pedro do Sul e faleceu no dia 20 de junho de 2014.