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06 de 04 de 2024, 12:00

Diário

Criminalidade no distrito de Viseu aumenta e atinge valores idênticos aos de 2013

A taxa de criminalidade aumentou 3,3 por cento de 2022 para 2023. Não há registo de homicídios, mas foram registados 13 por negligência em acidentes de viação. A violência doméstica, quer seja entre companheiros ou para com menores, continua com números elevados. Há menos furtos, mas mais roubos na via pública

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Os números de casos de violência doméstica entre adultos e menores, assim como os maus tratos e abusos sexuais em crianças e adolescentes continuam a ser elevados e preocupantes. De acordo com as estatísticas da Direção-Geral de Política de Justiça (DGPJ), no distrito de Viseu, em 2023, houve, em média, dois casos registados de violência doméstica entre cônjuge ou companheiro/a por dia. Foram registados 16 casos de violência contra menores e seis de maus tratos a crianças. Foram também reportados 17 situações de abuso sexual de menores.
O relatório, que dá conta dos crimes registados em 2023 pelas forças policiais (PSP, GNR, entre outras), indica, ainda, que foram denunciados 14 casos de violação e três de tráfico de pessoas.
Estes são alguns dos crimes que fazem parte dos mais de nove mil que as autoridades policiais registaram em 2023 e que são os valores mais altos da última década. No ano que terminou, há o registo de 9 178 crimes. Em 2022, o mesmo documento indicava 8 878, ano em que já se tinha verificado um aumento relativamente a 2021 (7 699). Só em 2013 (9 598 casos) é que se encontram valores idênticos aos de 2023. De 2022 para 2023, o aumenta da criminalidade foi de 3,3 por cento.
Não há registo, no entanto, de homicídios na forma consumada, a não ser os que resultaram por negligência em acidentes de viação e que totalizaram 13.
Há sete tipo de crimes especificados no relatório e, no distrito de Viseu, a maioria é contra o património (3.949) e contra as pessoas (2.612). Por município, e tendo em conta a média por mil habitantes, verifica-se que os concelhos com um índice de criminalidade mais elevados são Mangualde, Moimenta da Beira e Viseu.
Os números do distrito de Viseu estão em linha com o reportados a nível nacional. De acordo com as estatísticas da Direção-Geral de Política de Justiça, os crimes registados pelas polícias portuguesas aumentaram cerca de 8 por cento no ano passado em relação a 2022 e atingiram os valores mais elevados em 10 anos, totalizando 371.995 ocorrências. Os dados indicam também que só em 2020, ano marcado por confinamentos devido à pandemia de covid-19, é que a criminalidade ficou abaixo dos 300 mil crimes, com 298.787.

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Mais carteiristas e “duas mãos cheias” de raptos
Nos crimes contra o património encontram-se as ocorrências relacionadas com furtos, roubos e burla. Numa análise mais aprofundada, verificou-se que houve um aumento de furtos por carteiristas (de 55 em 2022 passou para 87 em 2023), assim como roubo na via pública com e sem esticão. Os furtos em veículo e em estabelecimentos comerciais diminuíram, assim como os furtos em residência com arrombamento. Destaque para o aumento das burlas com fraude bancária e burlas em informática e ainda para casos de extorsão que passou de 20 ocorrências para 50 em 2023. Nesta tipologia de crimes, as taxas mais elevadas registam-se em Viseu, Tondela, Mangualde e Santa Comba Dão.
Se nos crimes contra as pessoas, em 2023, não há registo de homicídios na forma consumada, o mesmo não acontece nas ofensas à integridade física na forma grave (24 casos) e simples (651). Já homicídios por negligência em acidentes de viação foram registados 13.
Mas são os casos de violência doméstica entre cônjuges que dominam as ocorrências. Em 2023, tanto a GNR como a PSP registaram 786 casos, um número que, apesar de elevado, ficou abaixo do registado em 2022 (868) que foi o ano com mais denúncias na última década.
Ainda nos crimes contra as pessoas, no distrito de Viseu verificaram-se 492 ocorrências contra a liberdade pessoal. O relatório indica que houve 10 casos de rapto/sequestro ou tomada de reféns e 475 situações de ameaça e coação. Há também o registo de três situações de tráfico de pessoas.
Neste capítulo, salienta-se ainda os crimes contra a liberdade e autodeterminação sexual que rondam uma média por ano de 60 casos. Carregal do Sal, S. João da Pesqueira e Tarouca são os municípios com índice mais elevado nos crimes contra as pessoas, tendo em conta o número de casos por mil habitantes.
Com um capítulo dedicado aos crimes contra animais de companhia, no distrito de Viseu foram registados 59 casos, a maioria no concelho de Lamego (10) e Viseu (12). Destaque também para os crimes relacionados com estupefacientes, sendo que no caso de tráfico houve em 2023 96 ocorrências, menos uma que no ano anterior. Também foram registados 12 crimes por jogo.

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Incêndios, desporto e álcool
Os crimes por condução com uma taxa igual ou superior a 1,2 gramas de álcool no sangue, em 2023, as autoridades policiais que atuam no distrito de Viseu registaram 1 089 casos. Foram ainda apanhados 391 condutores (quase um por dia do ano) sem carta de condução.
Ja na área do ambiente, verificaram-se 215 situações em que houve crime de incêndio florestal. E no desporto, há o registo de cinco ocorrências de participação de indivíduos em rixa e ofensas à integridade física em eventos desportivos.


Crimes contra o património
E a nível nacional, a DGPJ avança que os crimes contra o património representaram cerca de 51,0% do total (189.657 crimes), seguidos pelos crimes contra as pessoas que corresponderam a cerca de 24,4% do total (90.840 crimes) e dos crimes contra a vida em sociedade, que representaram 11,9% do total (44.439 crimes).
Segundo aquele organismo tutelado pelo Ministério da Justiça, apenas os crimes contra animais de companhia não subiram em 2023 face a 2022, passando de 2.022 para 1.729.
O tipo de crime que mais subiu no ano passado foram os cometidos contra o Estado (mais 16,9%), que passaram de 6.559 em 2022 para 7.713 em 2023, seguido do contra a identidade cultural/integridade pessoal (mais 9,6%), que totalizaram 367, enquanto em 2022 tinham sido de 289.
As estatísticas da justiça revelam também que os crimes contra as pessoas aumentaram 5,8%, contra o património subiram 7,6%. Já as polícias registam mais 424 crimes contra vida em sociedade, num total de 44.439 em 2023.
Os crimes mais frequentes em 2023 foram os de “violência doméstica contra cônjuges ou análogos” (26.041), seguido da condução sob efeito de álcool (24.133), ofensas à integridade física (24.111), furto em veículo motorizado (20.180), burla informática e nas comunicações (20.259), ameaça e coação (16.676) e condução sem habilitação legal (15.579).
Outros dos crimes mais registados foram o furto de oportunidade/de objetos não guardados (11.234), abuso de cartão de garantia ou de cartão, dispositivo ou dados de pagamento (10.386), furto em edifício comercial ou industrial sem arrombamento, escalamento ou chaves falsas (8.279), furto em residência, escalamento ou chaves falsas (8.237) e furto de veículo motorizado (8.189).
O presidente do Observatório de Segurança Interna admitiu que os dados da criminalidade em 2023 são preocupantes, mas defendeu que só será possível uma análise mais profunda com o Relatório Anual de Segurança Interna (RASI). Hugo Costeira disse que é preciso que seja feita uma comparação com a tipologia de crime e verificar em que zonas do país há registo de um maior índice criminal, sublinhando que também poderá ter havido um aumento do número de denúncias e não de crimes.
“Do ponto de vista estatístico, é realmente uma estatística preocupante”, admitiu, sublinhando que é necessário que seja feita uma reflexão com mais dados, que permitam que sejam tomadas outras considerações e medidas.
Na opinião de Hugo Costeira, “poderá não haver um real aumento de criminalidade”, mas sim um aumento do número de queixas às autoridades, com a consequente diminuição das chamadas cifras negras.

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Arguidos e condenados
As as estatísticas da Direção-Geral de Política de Justiça dão ainda conta do número de arguidos e condenados em processos crime nos tribunais judiciais. Na comarca de Viseu, foram condenadas, em 2023, 246 pessoas. Apresentaram-se em tribunal 683 arguidos.
A comarca de Viseu engloba os tribunais de Castro Daire, Cinfães, Lamego, Mangualde, Moimenta da Beira, Nelas, Oliveira de Frades, Santa Comba Dão, S. Pedro do Sul, Sátão, Tondela e Viseu.
O maior número de processos está no tribunal central, seguindo-se Lamego e Santa Comba Dão.
Segundo a DGPJ, as comarcas onde se registaram mais crimes foram de Lisboa (3.835), do Porto (2.010), Lisboa Oeste (1.668), Algarve (901) e Lisboa Norte (858).