Jorge Lopes

16 de 08 de 2022, 11:38

Diário

Distrito de Viseu em seca severa. Há cinco anos, a situação era a mesma

Segundo os relatórios de seca meteorológica elaborados pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera, a região também atravessou períodos complicados nos anos de 2005, 2012 e 2017

Barragem de Fagilde

Fotógrafo: Igor Ferreira

O distrito de Viseu continua em seca severa e a situação é idêntica aos anos em que a região passou por dificuldades com o abastecimento de água.

Segundo os relatórios de seca meteorológica elaborados pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), o distrito chegou a estar em seca severa e extrema nos meses de junho, outubro e novembro de 2017, um ano marcado pela crise de água que culminou com o abastecimento por via de camiões cisterna e autotanques.

Há cinco anos, a situação manteve-se extrema na região sobretudo durante o verão, sendo que a seca foi severa em setembro e moderada e severa em agosto e julho.

Em 2012, a seca não chegou a ser extrema na região, que contou com períodos de seca severa e moderada durante os meses de verão.

Outro ano marcado pela seca foi o de 2005, altura em que o distrito esteve em seca severa e extrema no mês de julho. Em agosto, a região de Viseu esteve totalmente em seca severa e, em setembro, parte do distrito passou a apresentar seca moderada.

Os cálculos foram feitos de acordo com o índice PDSI (Palmer Drought Severity Index), que deteta a ocorrência de períodos de seca e classifica-os em termos de intensidade tendo em conta a quantidade de precipitação, a temperatura do ar e a capacidade de água disponível no solo, com escalas que vão desde fraca a extrema.

Agora, o distrito encontra-se em seca severa, isto de acordo com os mais recentes dados datados de finais de julho deste ano. O IPMA alerta, no seu último relatório de seca, para o facto de ter havido “diminuições mais significativas” dos valores de água no solo em particular na região e noutros distritos do país, incluindo Porto, Coimbra, Leiria e Faro.

Os meteorologistas apontam nesta altura para o agravamento da situação de emurchecimento permanente, com um aumento da área com valores inferiores a 10% (por cento) de água.

“A região do interior Norte e Centro permanece com valores de água no solo muito baixos, em particular os distritos de Bragança e Guarda, com muitos locais ao nível do ponto de emurchecimento permanente”, escreve o relatório de seca.

De acordo com os gráficos do IPMA, há já locais no distrito de Viseu que têm precisamente menos de 10% de água no solo e outros com menos de 20%. A situação é mais grave no norte da região, onde a Barragem do Vilar apresenta uma capacidade de apenas 14%.

Os meteorologistas recordam que, durante o mês de julho e que foi o mais quente dos últimos 92 anos, os valores de temperatura do ar sempre muito acima do valor normal.

Em comparação com os anos anteriores, o IPMA lembra que as secas de 2005 e 2012 tinham mais de metade do território na classe de seca extrema em julho, enquanto a atual seca apresenta uma percentagem elevada em cerca de 45% do território nacional. Em todo o país, 55,2% do território está em seca severa e 44,8% em seca extrema.

Portugal continental está a viver uma situação de seca hidrológica que as autoridades admitem ser a pior dos últimos 100 anos, com todo o país praticamente em seca severa ou extrema. A situação tem obrigado à tomada de medidas, nomeadamente por parte das autarquias com a racionalização da água.

Desde há um ano que o país tem tido algum nível de seca na maior parte do território, com exceção do mês de outubro do ano passado, quando não ocupava a maior parte. Nos meses de inverno todo o país também esteve em seca, com mais de metade do território em seca extrema em fevereiro passado.

A juntar a isto, estão também as elevadas temperaturas. A estação meteorológica de Viseu teve, no último dia de julho, uma temperatura máxima absoluta de 38,7 graus. Lá, o IPMA registou médias de 16,8º de mínima e 32,5º de máxima durante o mês passado. A mínima mais baixa foi verificada no dia 1, com 11,2º.

Os valores de precipitação também foram inferiores por causa do calor em todo o país, mas a chuva foi superior aos valores normais em Viseu, onde foi registado um valor máximo de 27,5 milímetros de chuva no último mês. Segundo o IPMA, os valores da quantidade de precipitação acumulada no ano hidrológico 2021/2022, em termos espaciais, são inferiores ao normal em todo o território, com valores inferiores a 75% em relação ao valor médio.

Quanto à evolução até ao final de agosto, o IPMA prevê três cenários. O primeiro prevê um agravamento da seca no distrito, com algumas zonas a chegar mesmo à seca extrema, isto caso os valores da quantidade de precipitação continuem a ser inferiores ao normal e aumente a intensidade da seca meteorológica, com quase todo o território na classe de seca extrema.

O segundo cenário coloca o distrito ainda em seca severa, caso os valores da quantidade de precipitação passem a estar próximos do normal. Nessa hipótese, a seca extrema poderá diminuir na região Centro.

E o terceiro cenário põe grande parte da região de Viseu em seca moderada caso a chuva regresse com força, ou seja, caso os valores de precipitação sejam superiores ao normal, o que implicaria a diminuição da intensidade da seca em todo o país.
dados seca 16 08 2022 ipma
dados seca 16 08 2022 ipma
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