Jorge Lopes

16 de 06 de 2023, 17:24

Diário

Exames: Quatro escolas do distrito de Viseu entre as 100 melhores do país

Escola Secundária de Vouzela é a melhor escola da região, com uma média de 13,28 valores. Colégio privado de Viseu teve o melhor desempenho nos exames do 9.º ano. Nestes rankings, os dados são do Ministério da Educação, mas as leituras podem ser várias

escola secundária vouzela exterior

Fotógrafo: Facebook/Câmara de Vouzela

Quatro escolas do distrito de Viseu estão entre as 100 melhores do país, tendo em conta os resultados dos exames do ensino secundário em 2022, segundo o ranking das escolas divulgado esta sexta-feira (16 de junho). Das 24 escolas secundárias da região que aparecem na lista, treze subiram de posição e onze desceram.

A Escola Secundária de Vouzela é a melhor escola da região, tendo conseguido ultrapassar a Escola Alves Martins (Viseu), que antes registava a melhor média da região no ensino secundário.

De acordo com a lista divulgada pelo jornal Expresso e numa escala de 0 a 20 valores, a Secundária de Vouzela teve uma média de 13,28 valores, ocupando o 58.º lugar do ranking nacional. Mais de um terço dos alunos do 12.º ano matriculados neste estabelecimento de ensino (33,30%) eram carenciados.

Em Vouzela, foram feitas 136 provas, sendo que as melhores médias foram tiradas nos exames de Português (13,47 valores) e de Matemática (12,99 valores). Na disciplina de Física e Química, a média foi de 12,57 valores. Segue-se Biologia e Geologia, com 11,86 valores. As taxas de retenção rondaram os 5% no 10.º ano, os 3% no 11.º ano e os 6% no 12.º ano.

Em segundo lugar no ranking do distrito aparece a Escola Básica e Secundária de Oliveira de Frades, que registou uma média de 12,87 valores com base em 150 provas. No ranking nacional, subiu 52 posições para o 71.º lugar.

A Matemática foi a disciplina onde os alunos deste estabelecimento tiveram melhor aproveitamento nos exames, com uma média de 16,57 valores. Em Oliveira de Frades, as taxas de retenção atingiram os 13% no 10.º ano e os 4% no 12.º ano, sendo que nenhum aluno do 11.º ano chumbou.

E, em terceiro lugar, consta a Escola Secundária Alves Martins, em Viseu, que deixou de ser o melhor estabelecimento de ensino do distrito. Ocupa agora o 73.º lugar do ranking nacional, menos 15 posições.

No antigo Liceu de Viseu, a média foi de 12,84 valores em 2.004 exames. A melhor prova também foi na Matemática, com 14,16 valores. As taxas de retenção dos 10.º e 11.º anos (6% e 2%) são inferiores à média, mas a do 12.º ano (13%) supera a taxa nacional.

Depois do “top 3”, a melhor escola da região é a Básica e Secundária Dr. José Leite de Vasconcelos, em Tarouca, que fez 118 provas no ano passado. Desses exames resultou uma média de 12,65 valores. Este desempenho colocou a escola do norte do distrito no 85.º lugar do ranking nacional, mais 66 lugares.

Seguem-se a Escola Secundária Dr. João Lopes de Morais em Mortágua (12,27 valores), a Secundária de São Pedro do Sul (12,23), a Secundária de Nelas (12,18), a Básica e Secundária Gomes Teixeira em Armamar (11,98), a Básica e Secundária de Moimenta da Beira (11,83) e a Secundária Frei Rosa Viterbo em Sátão (11,76), fechando o “top 10” distrital.

A lista continua com a Secundária de Vila Nova de Paiva (11,72 valores), a Secundária Latino Coelho em Lamego (11,51 valores), a Básica e Secundária de Penalva do Castelo (11,41), a Secundária de Castro Daire (11,26) e a Secundária de Carregal do Sal (11,23).

A Escola Secundária Emídio Navarro, em Viseu, atingiu uma média de 11,18 valores. Com uma diferença de apenas duas decimais aparece a Escola Básica e Secundária da Sé, em Lamego, que registou 11,16 valores. Em Resende, a Secundária local teve nos exames uma média de 11,01 valores.

A Secundária de Tondela esteve muito perto de atingir os 11 valores, ficando com uma média de 10,99. A Escola Felismina Alcântara, em Mangualde, ficou-se pelos 10,97 valores, enquanto que a Secundária de Santa Comba Dão teve 10,86 e a Secundária Professor Doutor Flávio Pinto Resende, em Cinfães, 10,60. A Escola Secundária de Viriato, em Viseu, teve 10,55 valores.

A lista do secundário na região fecha com a Escola Básica e Secundária de São João da Pesqueira, que está no 575.º lugar do ranking nacional com uma nota média à tangente de 9,91 valores.

No ensino básico, a melhor escola é privada
Quanto ao ensino básico – em que o ranking do Expresso avalia as escolas numa escala de 0 a 100 pontos –, a lista do distrito é liderada por um colégio privado.

Trata-se do Colégio da Via-Sacra, em Viseu, que atingiu uma média de 72,78 pontos em 142 provas do 9.º ano e está no 49.º lugar do ranking nacional do básico. A Escola Alves Martins está em segundo lugar com 65,46 pontos, seguida da Escola Grão Vasco na terceira posição com 65,05.

Entre as dez melhores escolas básicas da região estão ainda a Secundária Frei Rosa Viterbo em Sátão (64,03 pontos), a Básica n.º 3 de Mundão em Viseu (58,47), a Secundária Dr. João Lopes de Morais em Mortágua (57,65), a Secundária Emídio Navarro em Viseu (57,29), a Básica de Mões em Castro Daire (57,16), a Básica de Viso em Viseu (57,13) e a Básica Infante D. Henrique, também em Viseu (56,85).

Em 39 escolas que fizeram exames do 9.º ano, 24 tiveram média positiva. A escola do distrito com o pior desempenho é a Escola Secundária de Santa Comba Dão, com 37,18 pontos.

Como são feitos os rankings das escolas
Os rankings das escolas são divulgados por diversos órgãos de comunicação social, com base em dados do Ministério da Educação. As listas ordenam todas as escolas pela média obtida pelos alunos na primeira fase dos exames nacionais realizados no ano letivo 2021/2022.

Embora haja vários rankings publicados na imprensa, eles não são necessariamente iguais. O ranking do Expresso – com o qual o Jornal do Centro se baseou para fazer esta notícia – ordena as escolas onde se realizou um mínimo de 100 provas no ensino secundário e de 50 no básico. Em alguns casos, o desempate é feito por centésimas.

Já no caso do Observador, por exemplo, um dos critérios é haver um número mínimo de provas feitas por escola. Numa lista em que isso não seja levado em conta, os resultados podem ser diferentes.

Por outro lado, é importante perceber que estes rankings não servem para dizer se uma escola é melhor que outra, já que são essencialmente as notas dos alunos — que podem ser obtidas graças à escola ou com ajuda externa — que permitem a ordenação.

Por isso, conforme a análise de cada lista, existem leituras diferentes. Por exemplo, a Secundária de Vouzela não é a melhor escola do distrito de Viseu de acordo com o ranking publicado pelo Observador, que aponta para a Escola Secundária de Vila Nova de Paiva como a melhor com uma média de exame de 14,1 valores. Por sua vez, o Jornal de Notícias colocou a Escola Secundária de Nelas no segundo posto distrital do seu ranking com uma média de 13,44 valores.

No ranking do básico, o Público colocou o Colégio da Imaculada Conceição, em Viseu, na segunda posição a nível do distrito. Já o “pódio” do JN é todo preenchido por colégios privados: Via-Sacra em primeiro lugar, Colégio de Lamego na segunda posição e Imaculada Conceição no terceiro posto.

De referir que os estudantes do secundário só tiveram de fazer as provas necessárias para concorrer ao ensino superior, enquanto que os alunos do 9.º ano voltaram a fazer exames nacionais nas disciplinas de Português e Matemática. Em nenhum dos casos, as notas de exame contaram para a classificação final das disciplinas.

Ministro da Educação considera que rankings das escolas são operação comercial
Entretanto, o ministro da Educação, João Costa, já reagiu aos rankings das escolas, classificando-lhes como "operação comercial”, ao hierarquizarem estabelecimentos de ensino em função dos resultados dos exames, ignorando variáveis de contexto socioeconómico.

“Olho para a escola que aparece num dos rankings no último lugar, a Escola Secundária da Baixa da Banheira. Essa escola tem uma percentagem de alunos de 70% com Ação Social Escolar, tem uma percentagem de alunos migrantes elevadíssima e o trabalho que essa escola faz para garantir que aqueles alunos que recebem, sem condições em casa, que muitas vezes chegam à escola com fome, chegam à conclusão do ensino secundário, requer um esforço muito maior do que pegar numa elite de alunos muito privilegiados, que têm uma série de recursos que pagam explicações, etc… e levá-los a melhores resultados”, defendeu João Costa, em entrevista à RTP.

Para o ministro, o maior desafio que se coloca aos sistemas educativos a nível mundial é melhorar a condição socioeconómica das famílias: “Infelizmente continua a ser o contexto familiar e a condição socioeconómica das famílias o principal preditor do sucesso ou do insucesso e essa deve ser a nossa grande batalha”.

O Ministério da Educação tem divulgado outros indicadores de contexto, a par dos resultados dos exames. João Costa destacou que algumas das escolas que surgem nas posições mais elevadas do ranking são as que “pior desempenham em termos de equidade”.

“Vemos que há sempre um hiato entre os resultados dos alunos mais favorecidos e dos alunos menos favorecidos, mas que lentamente os resultados dos alunos mais desfavorecidos têm vindo a subir”, declarou.

Instado a fazer um balanço do ano letivo, João Costa admitiu preocupação com a instabilidade que as escolas viveram, devido às questões que opõem ministério e sindicatos, referindo que não conseguindo responder a “todas as legítimas aspirações dos professores”, foram dados passos nas negociações entre as partes e admitiu que há ainda matérias a negociar com as organizações sindicais.

Fenprof considera ranking das escolas "uma fraude"
Já a Federação Nacional dos Professores (Fenprof) considerou o ranking das escolas “uma fraude”, depois de ter sido conhecida a queda dos estabelecimentos de ensino público na tabela das melhores médias nos exames.

“Continuamos a considerar os rankings uma fraude repetida anualmente em que se compara o incomparável”, disse o secretário-geral da Fenprof, Mário Nogueira, após uma reunião do secretariado nacional da federação sindical.

Mário Nogueira assinalou ainda que o ministro da Educação, João Costa, “continue a disponibilizar informação que permite elaborar produtos que marginalizam as escolas públicas e discriminam os seus alunos”.

Para o secretário-geral da Fenprof, as escolas públicas, ao contrário dos colégios privados não escolhem os alunos, mas “recebem todos”. “Ainda bem que assim é, oxalá que assim continue a ser”, salientou.

A presidente do Conselho Nacional da Fenprof, Manuela Mendonça, afirmou que os rankings não avaliam escolas.

“Há 22 anos, anualmente no dia em que saem os rankings das escolas a Fenprof toma posição, denunciando o que é uma mistificação. Isso tem vindo a tornar-se mais claro. Não se podem comparar escolas cujas realidades educativas são distintas”, indicou.

De acordo com Manuela Mendonça, não é possível comparar uma escola privada, que seleciona os seus alunos, com uma escola pública que recebe todos os alunos.

“Embora os rankings existam fundamentalmente para promover o ensino privado, há também muitos outros dados, nomeadamente estudos, que provam que há mais alunos das escolas privadas a entrar nas universidades, porque têm médias mais elevadas, mas na universidade os alunos que se saem melhor são os alunos das escolas públicas”, acrescentou.

Pais já esperavam resultados e pedem mais atenção na saúde emocional
Por outro lado, a confederação de pais considera que os resultados dos rankings dos exames eram os esperados, ressalvando que estes dados só se referem às provas e que é preciso dar mais atenção à saúde emocional da comunidade educativa.

Em declarações à agência Lusa, a presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais (CONFAP), Mariana Carvalho, disse que estes traduzem uma realidade que “já não é nova” e que os rankings “não significam que se estejam a preparar melhores alunos”.

“Significa que estamos a preparar os melhores alunos para os exames, não significa que estejam a preparar os alunos para a vida, para o dia a dia e para terem mais e melhores conhecimentos e aprendizagens”, acrescentou.

Ressalvando que a CONFAP ainda não analisou “em profundidade” todos os dados hoje divulgados, considerou que os rankings dos exames “têm o seu valor” e podem contribuir para melhorar o ensino.

“São realmente resultados de avaliações, portanto, têm o seu valor. Ainda assim, aquilo que a CONFAP também tem defendido é que podem servir para a melhoria contínua, até porque os contextos [dos alunos e das escolas] são completamente diferentes”, afirmou.

De facto, sublinhou, “cada vez mais a escola privada se vê evidenciada nestes ‘rankings’ em detrimento da escola pública”.

Questionada sobre se estes resultados refletem o impacto da pandemia, Mariana Carvalho respondeu: “Vivemos três anos letivos em pandemia, tivemos, entretanto, uma guerra e um aumento da inflação, em que os custos de vida aumentaram para todas as famílias, além da questão da instabilidade no último ano letivo, especialmente a partir de dezembro”.

“Portanto, nós não vamos conseguir distinguir quais foram os efeitos, ou melhor, o que é que provocou o quê, quais foram as causas que levaram a estes efeitos, ou que levarão aos efeitos futuros, porque ainda não conseguimos, a médio/curto prazo, perceber o verdadeiro impacto nas aprendizagens dos nossos alunos”, acrescentou.

“O que sabemos é que podemos aproveitar todos estes dados para potenciar as ações que podemos ter para que, de facto, a escola seja o elevador social que deve ser”, sublinhou.

Sobre os planos de recuperação de aprendizagens, disse que a perceção dos pais é que “não conseguem ver a recuperação de aprendizagens não havendo aumento do número de horas de aulas e uma diminuição do currículo”.

“Não pretendemos que os nossos alunos passem mais tempo dentro de uma sala de aula, estou a falar da perceção dos pais e essa é a de que não há uma grande recuperação de aprendizagens”, sublinhou a responsável, insistindo que “depende muito da escola, do professor e do aluno”, pois os planos não foram aplicados de igual forma em todas as escolas.

Mariana Carvalho pede ainda que se olhe para a saúde emocional de toda a comunidade educativa, “com enfoque especial nos alunos e nos professores”, falando de um “desgaste imenso” ao longo dos últimos anos.

“Não queremos um ranking de felicidade nas escolas, mas queríamos que todas as escolas tivessem, de facto, mais Felicidade. Isso sim é uma métrica que traz um valor incalculável”, concluiu.