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22 de 08 de 2023, 17:54

Diário

Há 10 anos bombeiros e Portugal choravam primeira morte do incêndio do Caramulo

Ocorrido na Serra do Caramulo entre 21 e 30 de agosto de 2013, este incêndio abrangeu os concelhos de Águeda, Oliveira de Frades, Tondela e Vouzela. Morreram quatro bombeiros. Apuraram-se perdas na ordem dos 14 milhões de euros

bombeiros tondela

Fotógrafo: Facebook/Bombeiros Voluntários de Tondela

Passaram 10 anos daquele que foi considerado o maior incêndio em 2013. Provocou a morte de quatro bombeiros, esteve ativo mais de dez dias e destruiu perto de 10 mil hectares de floresta em quatro concelhos dos distritos de Viseu e de Aveiro.
Há 10 anos morria no Caramulo um dos quatro bombeiros que perderam a vida neste incêndio que não se deixa ser esquecido. Foi Ana Rita Abreu Pereira, de 24 anos, e pertencia à corporação dos Bombeiros Voluntários de Alcabideche.
Todos os anos, a tragédia é lembrada com uma romaria ao memorial que foi erigido na freguesia de Santiago de Besteiros. “10 anos passaram-se desde aquele fatídico incêndio na Serra do Caramulo. O inferno do Caramulo, assim descrevíamos com a sucessiva quantidade de tragédias. Recordamos, devemos recordar”, assinalaram, na sua página nas redes sociais, os Bombeiros de Tondela, fazendo “honra” não só à Ana Rita como ao Bernardo dos Bombeiros do Estoril e à Cátia e ao Bernardo dos Bombeiros Voluntários de Carregal do Sal que também perderam a vida na sequência deste incêndio.
Ocorrido na Serra do Caramulo entre 21 e 30 de agosto de 2013, este incêndio abrangeu os concelhos de Águeda, Oliveira de Frades, Tondela e Vouzela. Apuraram-se perdas na ordem dos 14 milhões de euros. Foi combatido por mais de 15 mil bombeiros de todo o país.
Além das mortes, há dois momentos que marcam esta tragédia. O relatório que foi feito para apuramento das causas e o julgamento dos dois jovens condenados por terem ateado um dos incêndios que deu origem ao fogo.


O julgamento

Patrick Teixeira e Fernando Marinho. Estes são os nomes dos dois jovens que foram condenados por na noite de 20 de agosto terem ateado numa distância de um quilómetro vários focos de incêndio com recurso a um isqueiro e que deram origem ao grande fogo do Caramulo.
Responderam pelos crimes de homicídio qualificado, incêndio florestal e ofensa à integridade física. Em dezembro de 2014, o Tribunal de Júri de Vouzela condenou Patrick a 18 anos de cadeia e Fernando a 12. Mais tarde, a Relação de Coimbra diminuiu a pena. O jovem emigrado no Luxemburgo passou a cumprir pena de 16 anos. Já Fernando Marinho viu reduzida a sua pena de 12 para 9 anos. Em 2020, este jovem estava já com saídas precárias.
O julgamento acabou por ser um acontecimento “inédito”. Primeiro, porque foi feito com recurso a tribunal de júri e depois porque o coletivo de juízes optou pela reconstituição, com os réus, da noite em que pegaram numa mota e foram pelo Caramulo fora.


O relatório

Equipamentos de má qualidade, falhas na comunicação e desobediência, foram alguns dos problemas detetados num estudo elaborado logo no ano em que o Caramulo ardeu por uma equipa de especialistas da Universidade de Coimbra, liderada por Xavier Viegas.
O relatório foi dado a conhecer no final de 2013 e nele os especialistas falavam em proteção individual deficiente e desadequada ao combate, “anarquia” no uso do contrafogo e falhas na formação, algo que levou a um debate mais sério e que envolveu bombeiros e poder político.


E agora?

Dez anos depois muitas são as vozes que dizem que pouco ou nada mudou. Nos bombeiros, quem todos os dias parte para as ocorrências fala em veículos obsoletos e falta de renovação dos equipamentos de proteção individual. Na floresta, “que arde cada vez mais rápido e com mais violência”, pouco mudou no seu ordenamento. É que “passaram 10 anos, mas na memória de todos também estão os grandes incêndios de 2017”.