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06 de 05 de 2023, 08:57

Diário

Incêndios urbanos estão no patamar das preocupações como os incêndios florestais

São muitos os "inimigos" dos bombeiros. No combate aos fogos em habitações, até os fios aéreos atrapalham. Comandante em suplência dos Sapadores de Viseu pede responsabilidade na construção

Rui Nogueira

Fotógrafo: Igor Ferreira

Há em média 110 incêndios urbanos por ano no concelho de Viseu e os maiores inimigos dos bombeiros são as madeiras das habitações, as “tralhas” que se acumulam no interior das casas e que têm materiais combustíveis, as ruas estreitas, bocas de incêndio de difícil manobra e até mesmo os fios aéreos.
Tudo isto num cenário em que dado o alerta para um incêndio urbano pode significar que quando os bombeiros estão preparados para o combater já as chamas atingiram uma velocidade de propagação muito elevada.

Rui Nogueira, comandante em suplência dos Bombeiros Sapadores de Viseu e coordenador municipal de Proteção Civil identifica como desafio para inverter estes cenários uma maior preocupação na regeneração urbana, quer seja dentro das cidades, quer nos núcleos das aldeias.
No Seminário “A Proteção Civil e o Interior” que decorreu em Carregal do Sal, o comandante foi o convidado para falar sobre os incêndios urbanos.
“O nosso interior não é só monte como alguns podem pensar. Mas temos algumas particularidades”, começou por explicar Rui Nogueira. E essas particularidades, frisou, têm vários aspetos. “Primeiro, o granito e xisto são os materiais predominantes nas construções, mas a madeira está praticamente presente em tudo. Depois, temos ruas apertadas; nos núcleos fora das cidades, o centro urbano tem casas com interface florestal” e tudo isto, aliada à dinâmica demográfica – populações idosas ou lugares desertificados – contribui para que os incêndios urbanos estejam no “patamar das preocupações” como os incêndios florestais.
Enquanto demonstrava fotografias de vários cenários de incêndios, o comandante dos Sapadores de Viseu enumerava os maiores obstáculos, desde dificuldade em aceder aos telhados, a montar uma escada por causa dos fios, a ter de criar linhas de água porque as viaturas não chegam aos edifícios até aos telhados contíguos com materiais combustíveis ou a bocas de incêndio obsoletas ou tapadas por barreiras diversas.

“Tudo isto resulta em velocidades de propagação muito elevadas e muitas vezes quando chegámos ao local já as chamas avançaram além da origem do incêndio”, reforçou.
Para Rui Nogueira, a regeneração urbana tem de ser responsável e se ao nível da construção houver responsabilidade “pode-se evitar muita coisa”.
E perante a complexidade de cenários no combate a incêndios urbanos, o comandante desvendou a estratégia que usa em Viseu. O segredo passa pelo Gabinete de Segurança Contra Incêndios em Edifícios, cujas funções englobam a análise de medidas de autoproteção, projetos de segurança contra incêndio em edifícios e inspeções/vistorias regulares; mas também nos exercícios e simulacros que são feitos. “Com as ações de sensibilização e formação chegamos a cerca de quatro mil pessoas por ano. Só este ano já vamos em duas mil”, apontou Rui Nogueira, destacando também as ações e treinos com o corpo de bombeiros e o trabalho que é feito em cooperação, nomeadamente com os Bombeiros Voluntários de Viseu.