Diário

Em Mangualde e Nelas, estações de tratamento passam a estações de produção de água

O interesse pela reutilização de águas residuais tratadas tem vindo a aumentar, não só devido à escassez, como também fruto de uma consciencialização do valor da água enquanto bem de primeira necessidade

Está para breve a inauguração da ETAR (Estação de Tratamento de Águas Residuais) de Cubos, em Mangualde, que vai permitir um processo de tratamento e purificação da água que, no final do ciclo, terá uma qualidade ótima para ser reutilizada para fins agrícolas e industriais. Trata-se de uma infraestrutura com tecnologia de ponta, um investimento de cerca de dois milhões de euros, e que o autarca de Mangualde espera “recuperar” em dois anos.

“Queremos em Mangualde ser uma referência de boas práticas na circularidade da água e hoje com a certeza de que investimentos como estes tornam os nossos territórios mais atrativos e competitivos ao mesmo tempo que contribuem para a eficiência hídrica do país. Não temos uma ETAR, temos uma Estação de Produção de Água”, sublinha Marco Almeida, anunciando que já há conversações com um operador industrial.

O que está a ser tratado são as águas de esgoto, reforça o presidente da Câmara que salienta que a ETAR é um equipamento que em termos de modernidade está entre “os dois ou três melhores do país”.

“Queremos no prazo de dois anos reutilizar cerca de 50 por cento da água para fins industriais. Com esta ETAR e com a outra que vamos adaptar com o mesmo sistema, será esse o nosso objetivo”, assume.

De forma a evitar a ameaça à saúde pública e ao meio ambiente, a tecnologia de tratamento de águas residuais por reatores biológicos de membrana (MBR) utilizadas nestas novas ETAR é que assegura a elevada qualidade do efluente final, com remoção da carga orgânica e dos nutrientes.

Em Portugal, o interesse pela reutilização de águas residuais tratadas tem vindo a aumentar, não só devido à escassez da água de boa qualidade para consumo público (períodos de seca), como também fruto de uma consciencialização do valor da água enquanto bem de primeira necessidade. Uma consciencialização também na procura de soluções sustentáveis por parte do poder político e autárquico. Nos dias de hoje, é cada vez mais justificável a opção da reutilização dos efluentes tratados.

Também em Nelas a reutilização da água para fins industriais será uma realidade em breve. A autarquia vai avançar com o projeto ApR – Água para Reutilização que tem como principal objetivo o aproveitamento de águas residuais para fins industriais.

A empreitada, que permitirá a reutilização de águas residuais tratadas provenientes da ETAR de Nelas III, é composta por uma Estação de Tratamento de Águas (ETA), que faz armazenamento e bombagem através de duas condutas elevatórias – uma para a Zona Industrial Norte e outra para a Zona Industrial Sul – e respetivos pontos de entrega (dois), possibilitando assim uma gestão integrada de recursos hídricos. A ETA será construida no recinto da ETAR de Nelas III.

Segundo a autarquia, a ETA ApR será complementar à ETAR de Nelas IIII, que tem capacidade para tratar as águas residuais produzidas na zona central de Nelas, bem como as águas residuais provenientes das bacias norte, Nelas I, Folhadal e sul, por bombagem. O presente projeto foi desenvolvido para um horizonte de 40 anos.

O município de Nelas tem um consumo médio diário de 4.000m3, com a ApR serão tratados 1.800m3 de águas residuais, passando a metade do que se gasta do consumo humano. O investimento total de 3.3 milhões de euros, com comparticipação de fundos estruturais de coesão e de financiamento da autarquia.

“A água é um bem valiosíssimo, escasso, essencial à vida e à condição humana. No contexto atual, a nível planetário, que nos debatemos com a escassez deste bem essencial, é absolutamente fundamental que consigamos encontrar soluções para o seu uso de forma parcimoniosa, equilibrada e sustentável”, destacou o presidente da Câmara Municipal de Nelas, Joaquim Amaral.

Para o autarca, “a reutilização das águas residuais é um caminho fundamental a seguir na sustentabilidade do ciclo urbano da água. No que concerne ao seu reaproveitamento, e ao fazê-lo retirar pressão sobre a disponibilidade de água para o consumo humano; no assegurar de condições para o funcionamento do tecido empresarial, vital para a fixação da população e para as economias locais, diria nacionais, também no contributo da coesão territorial; sem esquecer no contributo decisivo para o meio ambiente ao evitar a sobrecarga dos meios hídricos.”, destacou.

Joaquim Amaral defende ainda que este projeto deveria ser de interesse nacional. “A ApR – Água para Reutilização – de Nelas devia ser considerado um projeto de interesse nacional, não só por todas as relevantíssimas razões que aduzi, mas também pela sua implementação poder constituir-se como exemplo a ser seguido à escala nacional, agora que temos um novo quadro comunitário a iniciar-se e a decorrer o PRR [Plano de Recuperação e Resiliência]”, salientou.

Além da indústria, o município pretende que a água possa servir no âmbito da proteção civil, como ponto de abastecimento de água aos bombeiros para o combate aos incêndios ou na limpeza, lavagem e rega de espaços públicos; assim como estender esta utilização à economia local, em particular na agricultura, nomeadamente na fileira da vinha e do vinho e na pastorícia.